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16 de fev. de 2024

nem o verão impediu o meu esmorecer

enquanto trovejava com inocentes pratos, portas e paredes, lembrei que ainda carrego montes e montes de palavras. a vida ás vezes inventa de acontecer e aí eu perco o momento de falar sobre as coisas. não que exista um momento destino, mas acredito na abundância e na pluralidade do tempo. prefiro ficar quieta, registrar com os olhos, ouvidos. silêncio é um privilégio que ainda aprecio. 

não vivo só dessa quietude, muito pelo contrário, preciso de todo o barulho do mundo pra sobreviver ao caos, que é bem silencioso do meu corpo mundo. verdade que essa anarquia escapa sorrateira da boca, é quando sei que preciso escrever.

digo pra mim mesma que guardar palavra e sentimento é bom, mas até certo ponto. sabendo que o silêncio pode me poupar de amargura futura, também sei que pode causar acúmulo de mágoa, ferrugem e desgaste. do que me adianta saber que ainda sinto essas dores? se deixar passar por essas e outras é uma porra, mas não há muito o que fazer. não que eu já não tenha errado, errado de novo, aprendido e voltado a errar. foi preciso cair e quebrar os ossos, pra perceber que vou continuar errando. em meio aos cacos partidos, talvez um dia eu mude.

não gosto muito de mudanças, mas sou ótima em me acostumar. passei tempos com um calo na sola do pé direito que nunca sarava 一 também nunca fui atrás de uma cura 一, seis meses depois... sumiu. já tinha me habituado com a ideia de tê-lo ali, inconveniente, me causando sofrimento. lido com as coisas assim, prestando atenção, incomodada, mas não lidando, esperando, até que elas decidam por conta própria desaparecer.

a verdade é que nada em mim desaparece. assim como a palavra guardada, se não é lapidada com cuidado, se torna outra coisa, me atormenta, apodrece, morre, corroendo. o calo sumiu, mas ainda sinto a sombra de um edema. falo das coisas que consigo cobrir com um sapato, uma blusa de mangas longas, uma risada, um silêncio.

"saia desse lugar!", digo pra mim mesma. permaneço imóvel. me embrenho no passado das coisas, em busca do que já foi bom. onde não era esse atual tormento que não cura, nem sara, tampouco é alentado. me agarro num passado que já foi pregado na parede, que é diferente desse presente cruel e percebo estar num martírio eterno. aguardo até que desapareça, afinal, nada que eu conheça durou pra sempre. tudo se perdeu em descuido e esquecimento. é um desamor atrás do outro.

tudo e nada não são sinônimos mas insisto em vivê-las como se fossem. 

já ouvi dizer que, se eu falasse com a boca sobre palavras e sentimentos que um dia já me foram sinônimo de dor, sem derramar lágrima alguma dos olhos, haveria uma cicatriz no lugar. ás vezes não precisa de muito tempo de cura quando o corte é na superfície. sobre machucados mais profundos, daqueles que ultrapassam todos as camadas da carne, não tenho controle algum, mas um dia vai dar bom. acreditar na complexidade do tempo em uma fé descabida, ás vezes funciona, ocasionalmente pode ser o suficiente pra curar. vai dar bom.

9 de jul. de 2023

it used to be me

quando viro a chave e abro a porta, todos os sons se dissipam. esse é o dado momento em que percebo os estragos que a vida me fez. o cansaço recai sobre os ombros. a memória já não está tão bem exercitada. não tenho encarado meu reflexo no espelho. o choro agora sai com dificuldade. aquele hematoma que não sara, aqueles calos que não secam. quem é essa que vive dessa maneira, toma esses tipos de decisões e se machuca a cada passo dado?

22 de mai. de 2023

fases, liberdades e lances não tão subjetivos assim

ás vezes, prefiro não ser esse ser presente e encarcerado à realidade. só pra poder sentir a respiração mais lenta e os seres se moverem devagar. alterando a velocidade da vida, dos pensamentos, das emoções. ligeiramente mais livre. devagar sobre ideias mais simples, menos palpáveis, mais imaginativas. ligeiramente mais livre, agora com mais certeza. 

15 de jan. de 2023

bote fé ou bote fogo

certa vez, acordei sob uma montanha. era quieto, frio e solitário. você não estava lá. me senti em casa, segura e em paz. tudo que é bom dura pouco. ninguém queria que eu tivesse esse tanto de liberdade, esse tanto de solidão, esse pouco de autonomia, principalmente você. eu tinha que descer a montanha e voltar para a casca velha e enrugada. ao meu retorno, me dirigiu aquele olhar de quem já não conhece afetos e eu sabia que não havia sobrado mais nada do que um dia senti por você.

29 de nov. de 2022

quando descobri a solidão

já faz um tempo em que parei pra escrever e conversar comigo, sobre mim. não é falta de tempo, é só que não sei bem em que pé anda as coisas por aqui. estou andando em círculos enquanto falo (e na maioria das vezes é assim mesmo). saudades da terapia. andei querendo entender o motivo de ter tomado tantas decisões estranhas, então sentei aqui pra escrever. 

21 de nov. de 2022

mal do século

tenho muito a fazer pouco respiro pouco descanso a minha mente não consegue parar não consegue me dar trégua e eu só quero um minuto de nada um respiro um ar que entre e que liberte as saídas de dentro e não acontece nada o pulmão está sempre fechado e em chamas o tronco enverga e os braços tentam acodem o peito numa tentativa falida desesperada e a mente é lembrada que não para não é possível parar ela continua a querer ouvir todos os sons do mundo ao mesmo tempo e todas as milhões bilhões trilhões de vozes sem nenhuma pausa nenhuma virgula não há parada eu só preciso respirar um minuto preciso de um minuto de nada e ele não vem não vem não vem

22 de ago. de 2022

reprise

em passos rápidos, o vejo ao longe. ele ainda não sabe que está andando em minha direção, já que não me viu. sempre numa andança ligeira, o mundo ao seu redor parece estar em outra velocidade. — pode ser culpa da ansiedade, mas é provável que seja porque conhece o chão que pisa, e até quando não conhece, age como se soubesse. eu tenho essa impressão equivocada de que talvez ele realmente conheça todos os lugares do mundo. — e aí quando me vê, acena. há vezes em que o faço primeiro, mas como gosto de olha-lo, me deixo demorar por um curto instante. 

9 de jul. de 2022

uma carta enviada

li em algum lugar que "coisas que não levam a nada são importantes", me pergunto o que importaria você saber disso agora. provavelmente nada. talvez eu esteja tornando mais difícil do que realmente deveria ser, mas o que eu tenho a perder? das coisas que eu nunca te disse, essas são as que mais me perturbam. 

13 de jan. de 2022

sobre blog, escrever e eu já nem sei mais

seria ótimo prever o futuro. tá aí um negócio que, vez ou outra, gostaria de fazer. poder dar uma boa olhada no que eu me tornei. só uma. a imprevisibilidade é instigante, mas se perder no dia após dia até chegar em grandes eventos da linha do tempo, só considero bom de vez em quando. aliás, o final eu já conheço. nem me fale de arrogância, pois imortalidade infelizmente não é o meu super poder. hipoteticamente, gostaria de ser imortal? não. queria era poder olhar, só um pouquinho, o futuro.

19 de out. de 2021

pensamentos de varanda

by Matteo Pericoli

numa manhã de feriado, um passarinho entrou pela porta da varanda e pousou na ponta do sofá da sala. o presságio de um ser em desespero pra encontrar uma saída daquele mundo estranho, o qual estaria a desbravar, me motivou a espantar o coitado no segundo seguinte à sua chegada. sou uma ótima anfitriã, como podem imaginar.

2 de set. de 2021

presságio

vai ficar tudo bem.

31 de ago. de 2021

bio

agora sou abismo. vazia, profunda, delirante. 

agora sou paciente. mentirosa, transparente, estampo medo nas retinas. 

agora sou escritora. me preocupo com cada palavra que digito. a ordem, as repetições, a intensidade. um final, um meio, um começo. 

agora sou gaiata. brindo felicidade, risada é alimento, movimento. 

agora sou peso. jogo sonhos pela janela, despenco do parapeito dela, não há um fundo. 

me perco em minhas personagens. não sei quem sou. talvez todas elas. acredito: nenhuma é igual. encaro as moléculas flutuantes de cada e não me vejo nelas. são minhas? quem sou? quem deveria ser? se existir for carregar essa mala pesada com formas de ser, não quero. arrastar uma bagagem que destrói cerâmicas de realidade com seu peso de mentira é ridículo. 

qual será a próxima persona que irei tomar como minha? quem é a verdadeira eu? existe uma verdadeira? de qual eu gosto mais? qual as pessoas veem? 

às vezes estou bem e escrevo. se passam dias e volto ao meu estado esquisito de espírito que rasteja pela terra arranhando os joelhos e já não assumo o sentimento feliz pelo qual dediquei palavras. devo joga-las fora? não as reconheço. não foi eu quem disse. foram elas. elas me sufocam. elas me sufocam.

ás vezes estou mal e escrevo. se passam dias e volto ao meu estado esquecido de vida. as palavras não parecem vir de mim, afinal estou completamente vazia. de onde elas vêm?  

temo o que sentará à minha frente. me encarar, ouvir meus porquês idiotas. tenho medo do que direi, será que vou inventar? mentir? não é o meu propósito, mas ás palavras me fogem e não sei me explicar.

prazer.

1 de jul. de 2021

junhos de outrora

revivo as histórias na cidade dançante, enquanto incendeia tudo no peito, que nem brasa estralando no fogo. eu sei que é junho. as bandeirinhas coloridas, a cortina incandescente pelas ruas do centro, os balões gigantes enfeitando os postes, as luzes enfim, brilham junto ao céu escuro estrelado. a felicidade mais do que presente, é sentida, compartilhada. os olhos das pessoas brilham mais que os astros do céu, é junho, afinal.

14 de jun. de 2021

segredos


cá estamos nós, a sós. mais uma vez. 
a cozinha parece pequena, enquanto te observo. sentada ao seu lado, a mesa parece ainda menor.
seu olhar passeia pelo café e as torradas quentes.

me pergunto se consegue ouvir o que estou pensando. 

27 de abr. de 2021

Te odeio.

Já faz um tempo que não te via. Não sei porque você cogitaria a possibilidade de eu ter sentido a sua falta. Você me conhece, sabe que não é bem-vinda.