considero difícil falar sobre livros que li há muito tempo, aqui nesse caso há mais de 6 meses. vou tentar não inventar memórias, mas talvez reconstruir lembranças já diga respeito aos equívocos em torno delas... afetividade e reconhecimento também farão parte. esse livro ficou comigo por quase uma semana e me deixou retalhos de vidas inteiras.
Maria Carmem é uma menina sincera, modesta e me cativou como quem não quer nada. se eu tivesse um compilado de personagens que me parecem muito familiar ela seria a primeira delas.
vejo que é unânime a vontade de colocar essa garota num potinho. não sendo ela a única, uma menina de 11 anos, a ter vontade de comer o mundo com as mãos e não como sugerem os adultos, com garfo e faca. eu também sinto essa vontade surgir, às vezes. como uma lembrança esquecida, enterrada. acho difícil compreender como um ser que viveu tão pouco consegue ter tanto a dizer sobre as coisas.Também fiquei querendo que livros fossem igual sanfona. Que tudo que eu escrevesse ficasse sanfonando na calçada pras pessoas ouvirem, em vez de lerem, já que ninguém sai lendo muito por aí. Daí as páginas abriam e fechavam no meu braço e as palavras iam saindo e se eu escrevesse muito muito muito bem igual o Leonardo toca, as pessoas acabariam dançando.
Kari-gurashi no Arietti (2010)
Se você fosse uma casa, como você seria. Perguntava o questionário do Leo. Pequena. Bem pequena, com portas cor-de-rosa. Eu seria de madeira, uma madeira bem leve, e todo o mundo passaria perto e diria Nossa que casinha mais frágil. De vez em quando, passariam perto de mim pra ter certeza de que eu ainda estava ali, que o vento não tinha me derrubado, de tão pequena e frágil e cor-de-rosa. Eu teria um jardim e um balanço, e as outras casas muito grandes e brutas me invejariam. E quando tivesse uma festa de aniversário em mim, as crianças todas segurariam balões de gás pelas janelas, e eu ficaria toda colorida, e se tivesse crianças demais, com dois balões cada uma, bem devagarzinho, eu sairia voando.
o olhar da autora me parece muito gentil. não tive a oportunidade de ler outras coisas da Mariana, mas a primeira impressão foi de muita sensibilidade em criar, escolher palavras e sentimentos. se nunca foi lei, acredito que todo personagem precisa ser de carne e osso, como os que ela dá vida aqui.
Antes de ficar doente, ela era muito sozinha, daí algumas tardes minha mãe me enviava pra fazer companhia pra ela, mas na verdade eu fazia solidão. As duas ali no sofá, quase no escuro, competindo qual solidão conseguia alcançar o teto. Eu acho mesmo que as crianças podem ser mais sozinhas que as velhas.
De repente isso ficou muito pesado, justo eu, em banho-maria, sem saber verdade nenhuma, falando de bife com frango frito.
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✷ decidi que iria participar do beda nesse mês de agosto. um belo de um desafio de pura persistência e criatividade, que eu não precisava nesse momento, sinceramente, mas enquanto esse pico de adrenalina durar estarei por aqui.