Elayne Baeta, abraços em áudio e laranja ultraforte... ultra!


elayne baeta autora do livro o amor não é óbvio
A primeira vez que ouvi a voz da Elayne Baeta, a artista, escritora, poeta, ilustradora, podcaster, baiana e maravilhosa, foi enquanto procurava despretensiosamente um podcast novo. Sou muito ouvinte desse tipo de coisa, pra quem não sabe. Encontrei o Lésbica & Ansiosa, fui lá no primeiro episódio e dei play na Fita 1 - "Acho chique o nome piloto".

"Oi, eu sou a Elayne Baeta, eu não vou falar muito sobre mim nesse primeiro episódio de todos, porque cê vai me conhecer muito ainda."  (Fita 1, Lésbica & Ansiosa) 

Já apelidando carinhosamente de Elay, porque justamente ela foi minha melhor amiga, uma vizinha que conheci, uma ex que tive, uma voz sensata na minha cabeça. Essas são palavras dela, mas se encaixam demais ao que eu mesma senti. Baeta me ganhou só no papo-charme e esse termo inventado por mim mesma faz total sentido ao descrever pessoas como ela. Fala sobre aceitação, disserta sobre amor próprio enquanto garota que se apaixona por garotas. Nos conta um pedacinho dela mesma em cada fita-episódio. Divaga sobre situações várias que vivenciou amando meninas pela primeira vez e te traz um lembrete, como um mantra, de que "tá tudo bem". Tá tudo bem surtar e dar um grito abafado no travesseiro. Tá tudo bem mesmo. 

No episódio Fita 7, a Elay fala sobre um livro que eu particularmente só conhecia de nome, mas nunca na floresta saberia dizer do que se tratava e nem que a autora seria ela. Fiquei feliz demais. Tive que dar pausa no episódio e correr pra ler "O Amor Não é Óbvio". Essa obra prima - celestial & pentecostal - nasceu no Wattpad e foi publicado em 2019, pela Galera Record. Mas, brincadeiras á parte, achava que livros com foco em romance, no geral, não fossem pra mim, muito menos um jovem adulto, sabe? Achei que não conseguiria ler 392 páginas de drama com personagens adolescentes, porque minha fase já passou, mas eu dei uma chance, por que fui totalmente rendida pelo papo-charme da Elay. De fato, eu estava tremendamente enganada, de forma gigantesca e catastrófica.

Esse livro me tirou de órbita. Sério. Se fosse dizer uma palavra que pudesse resumir esse livro, digo que seria: revelador. Ou, seria, explosão? Asteroide? Talvez, fôlego, conforto. Não consigo escolher uma única palavra que resuma tudo que o "O Amor não é Óbvio" causou em mim. Não é sobre ser uma história completamente diferente de tudo que já li na vida, mas também é sobre isso. Você vê todos os clichês de sempre, com a escola dominada pelos populares, os invisíveis num canto, os desajustados em outro e aquela velha paixão que parece impossível. A coisa muda quando você observa tudo isso acontecendo pelo ponto de vista de uma garota que se descobre lésbica. 

Menina gosta assim e menino gosta assado. Somos ensinados que essa é a natureza das coisas. Somos privados e privadas de pular para fora das caixinhas. É sobre se ter referências. Hoje se tem mais, de formas variadas, mas eu queria tanto ter tido contato com um livro como esse quando era mais nova. Tanto. Já contei umas coisas sobre isso aqui. A ideia de não se sentir um monstro, de não se sentir um alien, de saber que existem outras formas de amar, sem medo, sem culpa, me parece um mundo ideal. Me dá um quentinho no coração saber que Elayne Baeta é uma dessas heroínas sem capa. Que esse livro e muitos outros que virão, salvarão meninos, meninas e menines. Á Elay, meu muito obrigada.  

Queria falar que a Íris Pêssego, personagem que narra a história, me lembra muito eu mesma. Seus medos, anseios, desejos e sua complexidade enquanto garota que se descobre apaixonada pela Édra Norr - e quem não é apaixonada por essa mulher, meu Deus? - , Íris é extremamente importante pra mim, necessária em tantos níveis. Queria pegá-la pelos ombros e sacudi-la, por demais, várias vezes, mas esse fato não tira o mérito dela, não apaga a verdade certeira de que ela é incrível. Vê-la crescer, se desenvolver, errando, acertando, se machucando e magoando as outras pessoas, também faz parte desse processo dela de se aceitar. De se descobrir. Não acho que seja chata, mas uma representação complexa, fiel nem que seja num aspecto que seja, de pessoas quando se veem diante da dúvida sobre sua sexualidade e da possibilidade da resposta ser um grande: sim! 

"Voltei para casa com o sol se pondo em cima da minha cabeça. Me atrevi a experimentar o zigue-zague que Édra fazia com a bicicleta e nunca me senti tão livre na vida. Me peguei rindo da sensação de possível morte por atropelamento. Era emocionante. Como ver novela. O céu foi ficando em um tom laranja muito forte. O pôr do sol estava no ápice e eu também me sentia meio laranja forte por dentro. Quero andar em zigue-zague pra sempre." (Cap. 4 - O Amor não é Óbvio)

Eu agradeço a Elayne por me lembrar que a gente precisa sentir orgulho de quem nós somos, independente de qualquer circunstância que nos torne, ou não, diferentes.  

Agora que terminei o livro, volto pra Fita 7, na qual Elay fala sobre as importantes representações reais que as personagens evocam. Melhor do que ela pra explicar, só ela mesma, recomendo cada segundo. A partir dela, pude entender melhor a Édra Norr que é tão coragem, é tão parte de alguém que anseio ser um dia. Sobre a Dona Símia que é alguém essencial na vida de pessoas que estão em plena descoberta. 

Que bom que ainda dá tempo de ser quem a gente é. O nunca é muito tempo pra esperar, mas tem uma hora que a gente se torna acidente de carro, colide que nem asteroide com os planetas e explode em milhões de estrelas como big bang e nesse caso, talvez você se torne laranja ultraforte... ultra

*Trechos transcritos e retirados do podcast e livro da Elay.  

Livro: "O amor não é óbvio"

Podcast: "Lésbica & Ansiosa"

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4 comentários:

Snow ★ disse...

Gosto de ler o que você escreve, tem algo na forma como você coloca as palavras que me tira do eixo durante a leitura mas não consigo ver em mim como um incômodo, é tipo um membro que brotou no corpo e eu tento entender como usá-lo adequadamente. Bem, eu só queria dizer que venho lendo suas publicações, não comento por não me sentir realmente bem em dizer algo mas resolvi arriscar afinal quando uma leitura é boa, eu não rasgo ceda eu falo que gosto mesmo. Assim como gostei dessa postagem :B

Abraços,
Snow

nicole e. martins disse...

aaaaaaa oi Snow! seu comentário mudou meu dia, sério, muito obrigada <3 fico muito feliz que de alguma forma consigo transmitir palavras que façam sentido pra alguém. sei que a minha forma de escrever pode parecer confusa, isso é um medo real, mas eu tento melhorar e aprimorar essas maneiras de me comunicar, pois minha cabeça é um redemoinho. esse foi um texto muito especial e você ter comentado mostra que tô indo no caminho certo. muito obrigada mesmo :)

yun disse...

tenho muuuita vontade de ler o amor não é óbvio e outros romances sáficos que já adicionei à minha estante porque, de fato, vi muitas críticas positivas a esse livro. não conhecia tanto sobre a autora mas achei super especial e tocante a conexão que tu sentiu com ela e seus livros. é importante demais que tenhamos representações realistas de quem somos e defendo fortemente que muito do que quem é lgbtq+ sofre ao se descobrir é por experiências divergentes não serem retratadas na mídia.

apressarei, com certeza, a leitura desse livro!!! obrigado demais por escrever sobre ele. amei ter descoberto as coisas que tu escreve!

nicole e. martins disse...

oiiii yun! que bom você aqui <3 eu tive que refletir um pouco antes de te responder. o que você falou é real demais, a gente precisa cada vez mais de representações diversas, porque a gente sabe que nem sempre é igual pra todo mundo, são muitas questões envolvidas. na verdade, eu senti uma conexão com a autora, porque venho me questionando a um tempo (já faz mais de um ano) sobre coisas que eu sentia ter muita certeza. o livro validou os meus questionamentos, sabe? mas hoje, sinto que ainda não compreendo minha sexualidade e sei que não vou conseguir responder isso ainda. é muito doido, queria muito saber logo a resposta, mas eu preciso experienciar e continuar descobrindo coisas sobre mim.

muito obrigada por ter passado aqui, adoro seus posts!!! e talvez você goste do livro, eu gostei muito dele :)