because I'm the maker of my own evil

quote com Anna (Isabelle Adjani), em Possessão (1981)
quote com Anna (Isabelle Adjani), em Possessão (1981)
quote com Anna (Isabelle Adjani), em Possessão (1981)

Anna (Isabelle Adjani), em Possessão (1981)
 
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✷ decidi que iria participar do beda nesse mês de agosto. um belo de um desafio de pura persistência e criatividade, que eu não precisava nesse momento, sinceramente, mas enquanto esse pico de adrenalina durar estarei por aqui.

o trio elétrico das palavras

      • neblina
            • pluma
      • amarelo 
        • carinho
                • ficar
          • saudade

                  • calor
          • afeto
      • afoito
              • mar
          • luz
        • estranho
      • efêmero
      • primavera
        janela
            • cinema
          • gosma
            • manga 
      • ventania
        • nuvem
            • planeta
      •           colorido
          • maio
        • coisa
                  • tênis
          • barulho
      • sideral
        • esquecer
              • delírio
        • camomila

      • linha
      • caminho
        • bonito 

            • bizarro
                  • sonho
          • eufórico
        • boiola
          • pote
              • elo
      • comigo
          • sentimental
                  • retrato
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✷ decidi que iria participar do beda nesse mês de agosto. um belo de um desafio de pura persistência e criatividade, que eu não precisava nesse momento, sinceramente, mas enquanto esse pico de adrenalina durar estarei por aqui. 





o último quatro de agosto

geralmente me sinto um excremento humano nesse fatídico dia do ano. demoro mas levanto, tento me arrumar, coloco uma blusa bonita, evito me olhar demais no espelho, uma tentativa do meu humor melhorar. saio atrasada pro trabalho, pego o ônibus das oito. não tomei café, penso. espero o momento de descer.

chego no trabalho e faço o que tenho de fazer. abro abas, apuro valores, confiro, envio informações, fecho janelas, crio pastas, salvo arquivos, renomeio. penso que não postei o texto do beda ontem (quinta) e provavelmente hoje (sexta) também não irei. nos fones ouço punisher, in rainbows, pra curar, gêmeos e tento alternar com o álbum novo do FBC, mas não estou num clima de festa.

quase perto do almoço, tocando no interfone do escritório, meu pai aparece com um saco preto escondido atrás do corpo. parabéns, ele diz enquanto me abraça. te trouxe um amigo, também diz. meu novo amigo é um peixe beta vermelho. vocês não sabiam, mas morro de medo de peixe. agradeci ao meu pai pelo amigo novo. várias coisas passam pela minha cabeça. se vou conseguir fazer esse peixe sobreviver é uma delas, mal consigo cuidar de mim, quero dizer. 

coloco o peixe que tá dentro de uma sacola transparente, do lado do computador. fico olhando pra ele, esperando que aconteça uma conexão entre a gente. ele parece agitado. eu também ficaria numa situação dessas. lembrei que ele precisa de um nome.

é hora do almoço. eu, meu irmão e a minha mãe saímos pra comer, o que só acontece em situações de aniversário, ou acontecimentos muito específicos como divórcio, por exemplo. eu e a minha mãe escolhemos um lugar que vende comida chinesa/japonesa. só tinha comido sushi algumas vezes, mas nada além disso. peguei shop suey, rolinho primavera e outros molhos doces. não optei por variedades, pois era self-service no peso. felizmente, não fui eu quem pagou. não comi nada com peixe.

meu trabalho é de meio período, então voltei pra casa depois do almoço. levei o amigo sem nome.

José, o sobrevivente.
meu pai também se preocupou em me dar, junto com a comida, uma nova casa do amigo aquático. na minha primeira tentativa de colocar o bendito no aquário, quase matei o peixe. mal consigo lembrar do que aconteceu de tão nervosa e assustada a situação me deixou. imagina só não conseguir manter vivo o ser que está sob sua responsabilidade em menos de 5 horas. imagina! além de eu ter enfrentado um milhão de barreiras dentro de mim ao ter que pegar o coitado com as mãos. ele passa bem, apesar de quase o deixar em situação de prisão de ventre com a montanha de comida que eu coloquei. decidi chamar ele de José. 

muito perturbada depois do episódio acidental de um quase homicídio, abri a garrafa de vinho que me dei de presente. assisti clipes da Tuyo na tv, enquanto cantava, chorava, deixava ir. odeio esse dia e tudo que ele me faz sentir. rever coisas da vida, da minha trajetória, não sentir orgulho de nada, nem do meu gosto pra escolher amizades as quais sempre julgo (equivocadamente) se importarem com a minha existência. gosto quando esse dia acaba, quando volto a ser a invisível, a fulana. senti que o vinho estava me deixando desnorteada e falsamente feliz, então levantei pra lavar a louça.

a noite se seguiu com um bolinho de laranja de padaria decorado com granulado colorido e boiola. minha mãe me deu caixinhas de som pro computador pelas quais estou apaixonada e meu irmão me deu lembrancinhas trevosas que me fizeram muito feliz. deitei e respondi felicitações como um foguete. "tudo de bom pra gente!!!!!!". não sei responder de outro jeito. fui dormir cedo, afinal acordar com 26 anos é uma novidade pra mim e o dia podia finalmente se encerrar, deixar subir os créditos. 

a próxima sequência dessa franquia de quatros de agosto será em marte, me desejem sorte!

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✷ decidi que iria participar do beda nesse mês de agosto. um belo de um desafio de pura persistência e criatividade, que eu não precisava nesse momento, sinceramente, mas enquanto esse pico de adrenalina durar estarei por aqui. 

criando uma receita de purê de jerimum

dia desses decidi fazer uma receita nova. gosto da ideia de imaginar algo diferente com as coisas que se tem em casa. é um exercício do olhar, já que por força do hábito acabo sempre preparando os ingredientes da mesma maneira. à propósito, procurar a receita a partir do que você já tem e não o contrário, é uma ótima opção para o bolso. aproveitando o embalo, fica aqui guardado o registro desse prato que ainda não tinha parado pra escrever.

percebi que queria um purê diferente. sempre faço o de batata que é ótimo, mas precisava de uma mudança. ele foi o primeiro a sofrer drásticas modificações de sabor, devido à minha vontade de experimentar, inclusive essa receita também pode ser adaptada pra ela. no entanto, ainda assim, eu queria purê de outra coisa. 

o jerimum (também chamado de abóbora) sendo esse fruto doce que, geralmente preparo pra comer com outros pratos salgados, cozinho junto a outros legumes, nada muito criativo. ele estava ali à disposição pra se tornar o ingrediente principal do meu novo purê. claro que não inventei a roda, já haviam receitas como essa por aí. bastava eu me basear nelas e ver no que dava, mas segui a minha intuição e tentei fazer do meu jeitinho.

tenho feito esse prato muitas vezes desde a primeira vez que fiz e segue sendo meu preferido atualmente. não rolou uma fotinha, pois esqueci, mas me dando um desconto, pois foi um desafio escrever a receita haha. espero que inspire alguém por aí!


purê de jerimum     

     ingredientes 

    • jerimum em pedaços (sem casca)
    • aqui o belo jerimum em pedaços.
    • cebola picada
    • alho picado
    • coentro picado
    • manteiga
    • leite em pó ou creme de leite
    • charque (carne seca) *opcional*
    • açafrão e páprica (ou temperos de legumes da sua preferência) 
    • sal a gosto

        como preparo


primeiro coloco a manteiga na panela pra dourar a charque (mas você pode pular esse passo) e depois acrescento a cebola e o alho já picados. em seguida, coloco os pedaços de jerimum na panela. vou adicionando o coentro e os temperos. sempre mexendo, deixo que os pedaços de jerimum sejam levemente fritos. acrescento água e tampo a panela. 

aguardo o jerimum amolecer e vou acrescentando água até perceber que já estão moles o suficiente pra que eu possa amassar. com a colher, vou amassando os pedaços que já se dissolvem facilmente, e a massa já está numa consistência de purê! desligo o fogo. ele tá quase pronto. acrescento a manteiga, o creme de leite e o sal. misturo até se tornar um purê laranja e bonito. tá pronto :).

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✷ decidi que iria participar do beda nesse mês de agosto. um belo de um desafio de pura persistência e criatividade, que eu não precisava nesse momento, sinceramente, mas enquanto esse pico de adrenalina durar estarei por aqui. 



um filme chamado "Guaxuma", de Nara Normande

quem já me lê à um tempo sabe que não costumo fazer recomendações. se falo sobre as coisas, provavelmente me conectei com elas. muito difícil esse lance de conexão, é bem pessoal, se é que me entendem. recomendar algo me parece relacionado a isso. no entanto, o desafio foi dado.

quando se pensa em indicação de filmes também é possível que se imagine uma lista Daquelas Famosas & Belas Obras Cinematográficas citadas por todo mundo, o tempo inteiro. no entanto, trago aqui uma das produções que não vi em nenhuma lista dessas por aí. 

gosto de apresentar esse filme às pessoas, ou lembrar a elas que ele existe. bonito, autêntico e bem humorado, Guaxuma (2018) é um curta-metragem alagoano, de Nara Normande, que conta a história do amor de infância entre duas amigas. é um filme de 15 minutos, oficialmente disponível aqui

o filme usa de técnicas trabalhosíssimas de stop-motion como a animação de areia que se adapta muito bem com a narrativa biográfica de Nara. é um trabalho delicado e surpreendente. uma revisitação de memória. como algo tão curto consegue tocar partes tão sensíveis dentro da gente? já revi algumas vezes e sinceramente, digno de estar numa Daquelas listas, sabe? 

vamos ocupar as recomendações das grandes obras, pessoal. façam filmes, contem a história de vocês. rumo aos festivais. <3

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✷ decidi que iria participar do beda nesse mês de agosto. um belo de um desafio de pura persistência e criatividade, que eu não precisava nesse momento, sinceramente, mas enquanto esse pico de adrenalina durar estarei por aqui.

comentando "se deus me chamar não vou", de Mariana Salomão Carrara

considero difícil falar sobre livros que li há muito tempo, aqui nesse caso há mais de 6 meses. vou tentar não inventar memórias, mas talvez reconstruir lembranças já diga respeito aos equívocos em torno delas... afetividade e reconhecimento também farão parte. esse livro ficou comigo por quase uma semana e me deixou retalhos de vidas inteiras.

Maria Carmem é uma menina sincera, modesta e me cativou como quem não quer nada. se eu tivesse um compilado de personagens que me parecem muito familiar ela seria a primeira delas. 
Kari-gurashi no Arietti (2010)
Também fiquei querendo que livros fossem igual sanfona. Que tudo que eu escrevesse ficasse sanfonando na calçada pras pessoas ouvirem, em vez de lerem, já que ninguém sai lendo muito por aí. Daí as páginas abriam e fechavam no meu braço e as palavras iam saindo e se eu escrevesse muito muito muito bem igual o Leonardo toca, as pessoas acabariam dançando.

vejo que é unânime a vontade de colocar essa garota num potinho. não sendo ela a única, uma menina de 11 anos, a ter vontade de comer o mundo com as mãos e não como sugerem os adultos, com garfo e faca. eu também sinto essa vontade surgir, às vezes. como uma lembrança esquecida, enterrada. acho difícil compreender como um ser que viveu tão pouco consegue ter tanto a dizer sobre as coisas. 
Se você fosse uma casa, como você seria. Perguntava o questionário do Leo. Pequena. Bem pequena, com portas cor-de-rosa. Eu seria de madeira, uma madeira bem leve, e todo o mundo passaria perto e diria Nossa que casinha mais frágil. De vez em quando, passariam perto de mim pra ter certeza de que eu ainda estava ali, que o vento não tinha me derrubado, de tão pequena e frágil e cor-de-rosa. Eu teria um jardim e um balanço, e as outras casas muito grandes e brutas me invejariam. E quando tivesse uma festa de aniversário em mim, as crianças todas segurariam balões de gás pelas janelas, e eu ficaria toda colorida, e se tivesse crianças demais, com dois balões cada uma, bem devagarzinho, eu sairia voando. 

o olhar da autora me parece muito gentil. não tive a oportunidade de ler outras coisas da Mariana, mas a primeira impressão foi de muita sensibilidade em criar, escolher palavras e sentimentos. se nunca foi lei, acredito que todo personagem precisa ser de carne e osso, como os que ela dá vida aqui. 

Antes de ficar doente, ela era muito sozinha, daí algumas tardes minha mãe me enviava pra fazer companhia pra ela, mas na verdade eu fazia solidão. As duas ali no sofá, quase no escuro, competindo qual solidão conseguia alcançar o teto. Eu acho mesmo que as crianças podem ser mais sozinhas que as velhas.
crianças podem ser mais sensatas que os adultos, essa é uma pseudo certeza. elas sempre serão um mistério pra mim. 
De repente isso ficou muito pesado, justo eu, em banho-maria, sem saber verdade nenhuma, falando de bife com frango frito.
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✷ decidi que iria participar do beda nesse mês de agosto. um belo de um desafio de pura persistência e criatividade, que eu não precisava nesse momento, sinceramente, mas enquanto esse pico de adrenalina durar estarei por aqui.