Te odeio.

Já faz um tempo que não te via. Não sei porque você cogitaria a possibilidade de eu ter sentido a sua falta. Você me conhece, sabe que não é bem-vinda. 

Eu, sinceramente, achava que tua presença fosse do tipo visita, só que tá mais pra hospedagem. Afinal, não tenho como evitar, tu se hospeda e não adianta colocar barricadas e estacas de madeira na entrada. Você é sorrateira e desliza tranquila pela fresta da porta trancada e aluga um espaço, nem faz questão de pagar. Antes não te reconhecia chegando, mas agora sei que quando aparece, preciso ter o cuidado em me esconder. 

Quantos dias se passaram? Conto nos dedos, mas perco a conta logo em seguida. 

Já disse em algum lugar que escrevo porque preciso. Mas, quando você tá aqui, o compulsivo ato de abrir um novo documento e descarregar tudo que vier aos dedos, independe de qual tenha sido o conteúdo, porque nada é bom o bastante. Você é tão traiçoeira que me sabota sem que a cara esquente, ou trema, tu nem pisca duas vezes antes de me deixar em desamparo. 

Às vezes me parece que faz parte do processo comum de criação, a maioria das ideias são um lixo, mas de repente as observo de um ângulo diferente, pronto, não parecem mais uma droga completa. Só que você me olha, sorri em deboche e sei que não é culpa minha, era você o tempo todo. Enquanto te vejo dar risadas de escárnio, caminho no parapeito de um penhasco que penso todos os dias em me jogar só pra saber até onde vai dar.

Se todos esses arquivos fossem papéis em um caderno, eu definitivamente já teria os arrancado, amassado e queimado no fogão. De forma simbólica, arrasto lentamente o arquivo para a lixeira, colocando uma força um pouco maior que a necessária em cima do botão esquerdo do mouse, pois o processo é dramático e necessário. Preencho a lixeira do computador como se preenchesse meu próprio vazio. É assim como me sinto quando você volta. Vazia.

Escrever o que escrevo parece patético, porque querendo ou não, continuo acreditando parcialmente no que você diz. Quanto mais eu te ignoro, mais te ouço gritar e espernear, não tenho paciência pra isso. Escuto em silêncio e espero desesperadamente pelo momento em que você vai embora. Contudo, se ainda há força em mim, com muito custo e lágrimas nos olhos, te enfrento e te exponho aqui. 

Teimei em postar esse texto, porque penso que devo poupar as pessoas de acompanhar a dor do outro, afinal dor já basta a que cada pessoa guarda em si mesma. Acredito que a felicidade é um sentimento coletivo e a tristeza não precisa ser. No entanto, consigo entender que sentimentos podem ser compartilhados, na maioria das vezes é necessário que sejam. Infelizmente, humana. 

A culpa é dela e tenho plena certeza. Até derradeiro fim, eu me contento em aguentar essa companhia indesejada, esperando, esperando, esperando.


Ps.: deixo esse tweet aqui, por pura dor na consciência de ter postado esse texto.

15 comentários:

Djeni disse...

caramba, que bad. eu consigo sentir a sua dor e não, não se desculpe por isso. admiro você por estar sendo forte, as vezes é difícil se desvincilhar de uma pessoa que tem a chave do nosso cadeado, que mesmo sabendo que não sente nada de verdade, nos manipula e assim acaba fazendo sua estadia. peço que não se acostume com isso, se há sentimento de sua parte, voce pode se auto sabotar tanto quanto ela te sabota.

mas me diz, e quando ela for embora... voce sabendo exatamente os passos dela, de como ela consegue entrar na sua mente... voce vai permitir ou vai deixar rolar? já que a culpa é dela

bjinhos, amei teu blog <3

nicole e. martins disse...

oii Djeni! realmente já passei por isso que cê falou, mas felizmente acabou! nesse caso aqui do texto não falo sobre alguém que posso me soltar, mas sobre mim mesma, ou uma outra Nicole dentro de mim... poderia nomear com outros nomes mais sérios, mas não sou diagnosticada nem nada. então, digo que essa é uma outra 'eu' ruim, que adora me fazer mal. infelizmente dela não consigo fugir :(

obrigada demais por vir aqui e aaaa que bom que gostou,
beijoo <3

amanda disse...

oi, sigo o seu blog já há algum tempo, mas é a primeira vez que comento aqui. achei o seu texto incrível, mas sinto muito, muito mesmo, por toda essa dor que você vem sentindo. lendo a sua resposta ao comentário acima, entendi um pouco mais do que você diz. eu compreendo. sei exatamente como é essa sensação incômoda de nunca poder fugir de si mesma. no entanto, espero de coração que encontre certo alívio em meio a isso tudo. espero que melhore e que isso passe. e, por favor, procure por ajuda profissional também, se puder :( te desejo tudo de bom.

Snow ★ disse...

Li duas vezes. Na primeira, achei que fosse sobre um outro alguém, uma pessoa que conheceu, mas no final senti que conhecia suas palavras. Na segunda, percebi que era algo próprio. De você para você, e lembrei que em algum momento no passado eu já estive no seu lugar, só que com menos intensidade, acho. Normalmente me sinto assim quando já produzi demais e ainda insisto em continuar, mesmo já estando completamente esgotada. Há sempre alguém me dizendo para ser paciente e descansar, e as vezes eu escuto esse conselho bem demais e fico esperando o momento de me colocar nos trilhos novamente.

Eu diria para não esperar pela vista e aceitar essa que tanto odeia, pois ela parece gostar tanto de você que tem folga o suficiente em aparecer quando bem deseja. Seja pelo bem, seja pelo mau, tentar entendê-la seria a melhor solução para que talvez o que sinta, seja diferente disso - ou não, isso fica por sua conta minha cara, estou dizendo isso dado ao que me fiz passar mesmo e pelo que interpretei das suas palavras (que foram muito bem redigidas, diga-se de passagem).

Se quiser publicar o que tanto desgosta, eu me prontifico a ler!
Força Nicole, eu vou ficando por aqui :B
Snow

Djeni disse...

perdoe minha incoerência e falta de interpretação. isso já dá um outro sentido pra tudo isso... passo por isso, inclusive e nem sempre sei lidar... é como você.

dsclp pela idiotice do outro comentário kkkkkkk q vergonha

nicole e. martins disse...

oxe, que nadaa <3 fico feliz por você ter comentado! saber das interpretações várias que as pessoas podem ter é bem legal, sério. é até bom que você tenha dito, porque pra mim tava óbvio e na verdade não tava kkkkkk obrigada por dizer, inclusive outras pessoas pensaram assim também.

relaxa, de verdade. :)

nicole e. martins disse...

oii amanda! ai que legal ter você aqui pela primeira vez! obrigada pelo elogio e pelo carinho. sinto muito por você passar por isso, espero que encontre paz também :( queria tanto a ajuda, mas sei lá sinto tantos receios, espero que um dia eu tenha coragem de ir. te desejo tudo em dobro <3

nicole e. martins disse...

poxa, Snow, duas vezes! kkkkkk desceu uma lágrima aqui. obrigada, sério, nem sei lidar. adoro seus comentários, você é uma pessoa muito atenciosa.

me deixasse refletindo sobre a forma como vejo as coisas, talvez dar outro sentido ás minhas angústias ajude a lidar com elas, realmente. bom saber que tu leria coisas que desgosto, mas gosto de ter o cuidado de pelo menos serem apresentáveis pra quem vai ler. obrigada por se preocupar em vir aqui mais uma vez.

<3

Snow ★ disse...

Foi só uma dica dado ao que eu já passei por pura teimosia. Foram-se anos e muitos "tá tudo bem filha?" do meu pai para que eu realmente enxergasse o que estava fazendo comigo. O que me isolar e deixar de produzir fazia comigo (pois eu tinha o ato copioso de guardar muitas coisas ao invés de dizer o que sentia, mais por pensar que talvez não fosse algo significativo). As vezes para você pode ser e parecer ser o fim do mundo aquilo o que sente mas, para alguém de fora a solução pode ser mais simples do que você imagina, só isso mesmo. Ah! E não seja tão dura consigo mesma também Nicole, isso é algo importante de ser ressaltado!

Abraços,
Snow <3

nicole e. martins disse...

obrigada pelos conselhos e de novo pela preocupação! vindo de alguém que já passou por isso, significa muito.

já foi pior, sabe? acredito que tenho melhorado, ás vezes parece que não, mas sei que sim. sinto necessidade de externar os sentimentos ou não-sentimentos, só pra ter certeza se são reais ou plantados na minha cabeça por mim mesma. é meio complexo, porque na maioria das vezes não os entendo, então me isolo. chego a conclusões? na maioria das vezes não. isso me deixa muito irritada e acabo descontando em mim, nas pessoas. eu sei que preciso de terapia, mas tenho vergonha de ir, rs... aprender a respeitar meu próprio tempo é um processo pelo qual tenho tentado insistir.

um dia de cada vez. obrigada mais uma vez.

abracinho em você <3

Snow ★ disse...

Estava pensando no que comentar em sua lista recente e me lembrei que não vi se você tinha respondido a minha outra resposta, então vim aqui dar uma olhadinha e vou aproveitar para falar mais um tiquinho, se não se importa.
Por experiência, mais uma vez, concordo que uma boa forma de se conhecer é expressar o que sente (todos os pensamentos em espiral) seja falando para as paredes (o que faço com frequência) seja escrevendo (o que também faço com frequência), mas as vezes é bom ter um opinião distinta ou semelhante a nossa por isso chego ao meu empaque atual: conhecimento, ou melhor dizendo, buscar conhecimento. Não há problema algum em não conseguir se abrir com um conhecido ou estranho mas se isso lhe é um entrave e você não consegue uma outra maneira extravasar, busque por algo que aplaque o que sente (e digo isso pois tal como você eu também descontava nos outros o que sentia e sequer compreendia por completo, depois de anos eu fui sacar que na realidade era um adicional hormonal que me deixava nesse extremo, já que tenho a famigerada "síndrome dos ovários policisticos", o que não ir a uma ginecologista pela primeira vez não salva numa mente huh) no meu caso eu tentava me achar em letras de música e muitos momentos chorosos com o meu pai, que sempre me acolhia e ouvia, tentando me ajudar a me entender melhor - até caiu uma lágrima aqui menina.

Hoje em dia, depois de alguns momentos tensos, estressantes e tenebrosos real oficial, eu costumo analisar essas músicas mesmo, entender os processo criativos dos artistas que acompanho e isso me ajuda a produzir melhor, ou só pensar mesmo - por isso cheguei nesse empaque, estou carecendo de ferramentas para entender melhor as análises que faço. Mas isso sou eu falando de mim e espero que isso te ajude de alguma forma.

De nada, e me perdoa a demora Nicole (é que eu gosto de pensar bastante antes de falar com alguém, comigo eu falo qualquer merda e tá lindo, mas eu comigo me entendo hah). Um abraço grandão em você!

Agora vou ali na sua lista, já sei o que dizer nela :)

nicole e. martins disse...

nem sei o que te dizer e eu ficaria provavelmente batalhando com meus botões pra tentar te responder da melhor forma, mas apesar de também ser pensante à beça, infelizmente ansiosa. então, vamo lá. acredite ou não, eu também tenho essa bendita dessa síndrome, mas nunca pensei que isso poderia influenciar no meu comportamento(?).

é muito legal ter alguém que possa te ajudar a lidar com as coisas. tentei me abrir com a minha mãe algumas vezes, mas ela não entende bem e sei que não é culpa dela, pois também não entendo completamente. é até muito doido, por que nunca falei tanto sobre isso com outras pessoas, no entanto, cá estou eu. prefiro mil vezes rir do vento passando, do que lidar comigo mesma, sabe? é tão AAAAAAAAAA

achei muito legal o lance das análises, por favor me conte mais :B

não se desculpe pela demora, entendo demais sobre a existência dos tempos de cada um. você é uma pessoa muito sábia.

<3

Snow ★ disse...

Se um dia eu duvidei do tamanho do mundo acho que essa dúvida acaba agora, pois se tinha algo que eu não imaginava era poder comentar sobre essa síndrome com alguém além da ginecologista que me atendeu aquele dia (risos) e olha, pelo o que eu pude entender pesquisando sobre, e pelo o que a doutora me disse, a sop (vamos usar a sigla pois o nome é enorme) atinge algumas "áreas" do corpo sendo elas através de acne, crescimento de pelos, cólicas fortes e mudanças drásticas de humor (que normalmente acontecem antes da menstruação mas com a gente pode passar um pouco da conta). Isso varia muito de pessoa a pessoa, pois cada corpo é um corpo mas quanto ao humor é realmente algo... violento? Não sei se essa é uma boa forma de se colocar, mas os hormônios tendem a nos influenciar e muito, principalmente quando nós retemos algo que deveria ser liberado a cada ciclo menstrual (acho que se chamam folículos, algo assim, eles ficam retidos nos ovários) por isso não é difícil de acontecer uma mudança de humor brusca, um sentimento inesperado ou uma revolta sem causa - até mesmo algo mais triste que não sei como descrever bem, um vazio existencial? É, dá para colocar dessa forma.

Não sei como descobriu a síndrome mas comigo foi por causa da acne em excesso, aquela altura me foi recomendado tomar anticoncepcional e olha, funcionou muito, mas parei com o tratamento pela retenção de líquido no meu corpo (cheguei até a engordar, algo que dificilmente me acontecia) e também pelas crises de vômito que estavam me deixando cansada, sem contar do risco de trombose que o medicamento traz. Depois do tratamento eu não sinto mais aquelas mudanças que costumava sentir, foi algo gradual que mal me dei atenção durante os nove meses que usei o anticoncepcional, mas as pessoas ao meu redor notaram e isso foi algo positivo, a acne continua mas não é como se fosse o fim do mundo. Então ugh, é isso. Basicamente. Mas recomendo uma conversa franca com alguém especializado pois depois que parei com o tratamento nem pude conversar com a doutora, acabou dinheiro, chegou pandemia, enfim.

Se isso te mostrar que o que tem passado não é algo completamente anormal já me vale de alguma coisa, pois eu sentia que comigo era um troço de outro mundo. Meu pai até pensava em me levar ao psicólogo mas eu me recusei, se eu estava daquele jeito sozinha, sozinha eu iria resolver (e consequentemente, resolvi).

É, por muito tempo eu preferi me distrair do que lidar com o problema, e ele cresceu bastante até :B
Ah, quanto as análises, eu costumava procurar por músicas que dissessem aquilo que eu não entendia em mim (tipo empty da olvia o'brien, king da lauren aquilina, grace da rachel platten, inner demons da julia brennan e por aí vai) até que eu resolvi inverter isso e só analisar as letras. As vezes eu pegava um álbum inteiro e ia vendo faixa a faixa, a forma como o artista escrevia ou interpretava as letras, o processo de criação da música (chole & halle são impressionantes nesse pento, recomendo ouvir warrior se tiver interesse, a letra é linda), de um vídeo clipe - isso passou a me distrair de uma forma positiva pois eu não estava mais lamentando o meu estado, estava tentado fazer algo de diferente dele. Passei a fazer isso com o que lia e via também, me tornei mais crítica, não alguém que apenas consome, mas alguém que quer entender o que consome.

Eu? Sábia? Caramba, muito obrigada Nicole ;W;
Aliás, quero te agradecer pacas pelos seus comentários, viu? Amei lê-los, de verdade, e o merengue pode ser substituído por chantily também, mas acho que essa é a única opção para aquela receita, espero que isso ajude heh.

Abraços, Snow <3

nicole e. martins disse...

Ai obrigada por compartilhar isso comigo :) Eu cheguei a descobrir na ginecologista também, passei pelo mesmo processo de tomar anticoncepcional. Não lembro por que parei de tomar já faz uns 3 ou 4 anos, só acabou e não comprei mais. Esqueci completamente de que isso influenciava no meu humor, os outros problemas hormonais continuam realmente, mas não notava nada de melhora aparente ao tomar os comprimidos? E tenho medo de ficar tomando remédio como uma rotina, mesmo que seja sem base (o medo). Eu não acho nada demais ter isso hoje em dia. Conheço uma outra amiga que também tem. Confesso que lembro de ter me sentido um bob esponja quando a doutora falou. "E agora, o que eu sou???" Talvez estar dando pouca importância tenha me deixado alienada quanto aos reais motivos de ter certas crises.

Ah, então o que você faz é um pouco do que faço, mas nem sempre faço. Vou pesquisar as músicas depois, obrigada pelas recomendações! <3 Tento me policiar quando isso acontece, consumir só por consumir, na maioria das vezes faço isso quando não tô bem, sabe? Uma tentativa de me apagar mesmo.

SÁBIA!!!!

Os comentários não são nada demais :b, mas depois do primeiro que fiz vou sempre deixar um! Nem tem como não comentar, gosto muito das coisas que você escreveeeeeeee

Muitos abraços <3

Snow ★ disse...

Pra mim foi só uma resposta mesmo, como sempre tive muita acne saber que esse era o motivo só salientou a minha ideia da genética, já que algumas pessoas da família antes de mim também passaram por maus bocados com isso - ter noção de como os hormônios afetavam o meu humor foi um bônus, mas saliento o que eu já tinha dito, ter noção disso me ajudou a deixar de pensar abobrinha e acabou me ajudando a melhorar certos aspectos do meu comportamento. Nada muito grande, nada glorioso, mas fez uma diferença bacana no final (e realmente, cada corpo é um corpo, se o medicamento não surtiu esse tipo de efeito, ao menos você sabe onde pode trabalhar, ou só não fica no escuro mesmo). Se importe com o seu corpo e ele acaba te dando as respostas, acabou virando um lema meu depois disso heh.
Aliás, foi bom poder falar disso com alguém, obrigada por ler esse testemunho Nicole kroewkrowkr

Eu recomendei no automático, me lembrei delas e achei bacana mencionar também pois costumava as escutar com esse propósito - de me preencher já que me sentia vazia. Agora quanto a apagar, eu costumo reler coisas que gosto mesmo, só não colocaria como "me apagar" seria algo como um estado completamente enjoado de mim, aquele dia que eu tenho certeza de que seria melhor ter ficado na cama e não ter feito absolutamente nada (mas acho que entendi o seu ponto aqui :p).

Obrigadinha <3 fico muito contente em saber disso!
Ennfim, só queria dizer isso mesmo! Espero que esta seja a minha última resposta nessa postagem, pois a thread que aconteceu aqui já tá enorme demais, cacetada!! 'té <3