7 de ago. de 2023

o último quatro de agosto

geralmente me sinto um excremento humano nesse fatídico dia do ano. demoro mas levanto, tento me arrumar, coloco uma blusa bonita, evito me olhar demais no espelho, uma tentativa do meu humor melhorar. saio atrasada pro trabalho, pego o ônibus das oito. não tomei café, penso. espero o momento de descer.

chego no trabalho e faço o que tenho de fazer. abro abas, apuro valores, confiro, envio informações, fecho janelas, crio pastas, salvo arquivos, renomeio. penso que não postei o texto do beda ontem (quinta) e provavelmente hoje (sexta) também não irei. nos fones ouço punisher, in rainbows, pra curar, gêmeos e tento alternar com o álbum novo do FBC, mas não estou num clima de festa.

quase perto do almoço, tocando no interfone do escritório, meu pai aparece com um saco preto escondido atrás do corpo. parabéns, ele diz enquanto me abraça. te trouxe um amigo, também diz. meu novo amigo é um peixe beta vermelho. vocês não sabiam, mas morro de medo de peixe. agradeci ao meu pai pelo amigo novo. várias coisas passam pela minha cabeça. se vou conseguir fazer esse peixe sobreviver é uma delas, mal consigo cuidar de mim, quero dizer. 

coloco o peixe que tá dentro de uma sacola transparente, do lado do computador. fico olhando pra ele, esperando que aconteça uma conexão entre a gente. ele parece agitado. eu também ficaria numa situação dessas. lembrei que ele precisa de um nome.

é hora do almoço. eu, meu irmão e a minha mãe saímos pra comer, o que só acontece em situações de aniversário, ou acontecimentos muito específicos como divórcio, por exemplo. eu e a minha mãe escolhemos um lugar que vende comida chinesa/japonesa. só tinha comido sushi algumas vezes, mas nada além disso. peguei shop suey, rolinho primavera e outros molhos doces. não optei por variedades, pois era self-service no peso. felizmente, não fui eu quem pagou. não comi nada com peixe.

meu trabalho é de meio período, então voltei pra casa depois do almoço. levei o amigo sem nome.

José, o sobrevivente.
meu pai também se preocupou em me dar, junto com a comida, uma nova casa do amigo aquático. na minha primeira tentativa de colocar o bendito no aquário, quase matei o peixe. mal consigo lembrar do que aconteceu de tão nervosa e assustada a situação me deixou. imagina só não conseguir manter vivo o ser que está sob sua responsabilidade em menos de 5 horas. imagina! além de eu ter enfrentado um milhão de barreiras dentro de mim ao ter que pegar o coitado com as mãos. ele passa bem, apesar de quase o deixar em situação de prisão de ventre com a montanha de comida que eu coloquei. decidi chamar ele de José. 

muito perturbada depois do episódio acidental de um quase homicídio, abri a garrafa de vinho que me dei de presente. assisti clipes da Tuyo na tv, enquanto cantava, chorava, deixava ir. odeio esse dia e tudo que ele me faz sentir. rever coisas da vida, da minha trajetória, não sentir orgulho de nada, nem do meu gosto pra escolher amizades as quais sempre julgo (equivocadamente) se importarem com a minha existência. gosto quando esse dia acaba, quando volto a ser a invisível, a fulana. senti que o vinho estava me deixando desnorteada e falsamente feliz, então levantei pra lavar a louça.

a noite se seguiu com um bolinho de laranja de padaria decorado com granulado colorido e boiola. minha mãe me deu caixinhas de som pro computador pelas quais estou apaixonada e meu irmão me deu lembrancinhas trevosas que me fizeram muito feliz. deitei e respondi felicitações como um foguete. "tudo de bom pra gente!!!!!!". não sei responder de outro jeito. fui dormir cedo, afinal acordar com 26 anos é uma novidade pra mim e o dia podia finalmente se encerrar, deixar subir os créditos. 

a próxima sequência dessa franquia de quatros de agosto será em marte, me desejem sorte!

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✷ decidi que iria participar do beda nesse mês de agosto. um belo de um desafio de pura persistência e criatividade, que eu não precisava nesse momento, sinceramente, mas enquanto esse pico de adrenalina durar estarei por aqui.