24 de ago. de 2021

coisas, coisas, coisas


comecei a escrever esse texto há um bom tempo. digitei sobre coisas que aconteceram a meses e outras que aconteceram a alguns dias. não era a minha intenção, já que não costumo perdurar demais. tendo a desistir de expor. vou cortando até não sobrar nada. é irrelevante, não vale a pena ser dito. muito provável pela falta de confiança no que digo. tenho medo do que pareço enquanto falo, como se certas palavras não fossem condizentes com o Eu que conheço. 
(tradução livre:
- não sei o que há comigo hoje! ando com o ânimo no chão!
- que triste destino para um ânimo!)

sempre teimo em ter certezas sobre tudo. sobre mim, a vida, minhas escolhas, meu futuro. pensar a longo prazo é possível, mas planejar? parecem preocupações de uma outra época, de eras em que construir Grandes Sonhos garantiam alguma coisa. sinto dizer que não sou daquelas que queria ter nascido em outra década. longe de mim. acho que meu tempo é esse ou, quem dera fosse, ainda mais no futuro. e lá vou eu, de novo... talvez exista um tempo em que eu tivesse sido mais eu, ou talvez essa data nunca venha a existir. só tenho que continuar durando em qualquer ciclo que seja. sinto falta de não querer ter certeza de nada, de quando isso não era uma preocupação constante. sinto falta de não me angustiar pelas coisas que acontecem só na minha cabeça. 

tempo demais na internet me faz ter pensamentos esquisitos. niilistas, individuais, egoístas, solitários. 

ás vezes não sei por quê continuo nessa sequência de acordar, levantar e arrumar a cama todos os dias. considero que não é importante ter um motivo, mas é cansativo (pra mim) não ter. acredito com todas as minhas forças quando Moraes Moreira diz que é um grande mistério ser pequeno e grande ao mesmo tempo, mostrando como se é e sendo como se pode, mas tão difícil se manter no personagem quando seu espírito não é mais o mesmo. os anos o desbotaram.

eu não tô bem. falar isso com todas as letras nesse momento é mais fácil do que ficar em silêncio e ser consumida pela agonia que isso me causa. não que eu seja um floquinho de neve e consequentemente, a única de saúde mental abalada, afinal, quem tá realmente bem? levando em conta todas as vezes que a minha mãe não teve opção de desistir (mas ela queria), percebi que não queria ser uma outra decepção da vida dela. dos poucos diálogos extremamente sinceros:

- nicole, você não pensa em fazer uma besteira com você não, né? 
- não, mãe. nunca faria isso.
- não faça isso não, que eu morro.
- justamente, nunca faria isso. por sua causa mesmo.
- não por mim, você tem que fazer isso por você.

é difícil explicar, mas é uma sensação de fracasso, sabe? chegar ao ponto da sua própria mãe conseguir enxergar a luz se apagando. levando em conta que, como já disse, não sou uma pessoa transparente. acho que é uma dor muito grande ver uma cria que você lutou pra manter viva, não ter vontade de viver. é tão... ingrato. estar mal não é só uma droga exclusivamente pra mim, já que também afeto as pessoas ao meu redor. então, decidi que não dá mais pra empurrar essas coisas com a barriga. vou marcar a minha primeira sessão de psicoterapia. falta só coragem e um enter. é um grande passo... considerando que já devia ter feito há muito tempo. 

me sinto chata por ficar falando sobre responder comentários, mas sinto que devo, já que as pessoas se esforçam ao fazer. não leve pro lado pessoal, por favor. mesmo os que não falam sobre isso, sinto que não os mereço, que não são pra mim. acho que é meio bobagem, mas é como o coração tem funcionado. li todos e tenho carinho por cada um, mas não tô muito afim de comentar sobre as coisas que eu mesma digo. agradeço por todas as incríveis pessoas que tenho tido a oportunidade de conhecer aqui e me martelo por não ter força o suficiente, nesse momento, pra demonstrar toda essa gratidão. saiba que num mundo ideal eu teria tomado sorvete com você que deixou seu carinho ou, com você que continua lendo, em segredo, o que escrevo.

queria ter esperado essa angústia passar antes de vir aqui. ou só diminuir. era o que eu queria fazer. tenho um péssimo costume de afastar todo mundo quando tá tudo muito ruim aqui dentro. da internet consigo me afastar, mas de quem está perto de mim, não. aí calhou do coração estar pior que o normal durante dias próximos ao meu aniversário. sei que as pessoas ao meu redor me amam, querem celebrar coisas comigo, mas e quando você precisa fingir que tá bem? como lidar com tanta atenção, quando o que realmente deseja é se esconder num buraco e não sair nunca mais? não tive forças pra lidar, não deu pra fingir, desabei na frente de todo mundo mesmo, realmente, pra mim já deu. apagar velas nunca foi tão deprimente. 

no dia dos pais, resolvi fingir não estar totalmente esgotada por dentro e cozinhar """""""""coisas diferentes""""""""". são muitas aspas, pois não são tão diferentes assim, mas tenho preguiça de cozinhar, já que tenho de fazer isso rotineiramente. fiz a receita de biscoitos com goiabada, que o Vic publicou, gostei muito mesmo e, também fiz um bolo de laranja (que estranhamente prestou). cheguei a fazer os biscoitos de novo, em um outro dia, todo mundo aqui em casa oficialmente adora. talvez meu pai tenha gostado do dia num geral, ás vezes é difícil saber.  

descobri que uma das minhas paredes do quarto não é uma parede de alvenaria. tipo, com tijolos e tal. é gesso. e aí acho que é por isso que escuto bastante dos outros cômodos, inclusive dos meus vizinhos que moram em cima. até demais. o teto também é de gesso. percebi que a irritação é real quando qualquer barulho me tira do sério. tem sido complicado nesses meses de frio, pois não poder ligar o ventilador (que ajudava a disfarçar os barulhos) é uma droga. infelizmente, tenho sono leve.

minhas noites têm sido grandes dramas. tem noites que choro até dormir. outras em que acordo pra chorar. tem aquelas que são fracionadas e acordo a cada uma hora. tem as que parecem eternidades e não durmo nada. tem muitas madrugadas em que os barulhos não me deixam pregar os olhos. em uma delas, acordei com vozes de pessoas brigando — essas são as piores — e aí curiosa, fiquei acordada na janela pra ver o que acontecia: alguém acabou chamando a policia, não tenho a menor ideia do motivo, mas ouvi o homem ameaçando a família de alguém, e falarem sobre uma porta quebrada. enquanto o cabaré desenrolava com a polícia, haviam algumas pessoas assistindo, como eu, uma sombra num quarto de luz acesa e um casal que transava na varanda. não fiquei até o final, tava muito frio. 

na minha vizinhança, toda semana tem uma droga dessa acontecendo. por questões puramente traumáticas, meu coração dispara com qualquer voz exaltada, qualquer grito de criança, basta ser real e não fictício. acho que é o famoso gatilho. esses são os álbuns mais recentes que não saem dos meus fones quando tento dormir ou fugir. cada foto tem um link pra uma música que eu gosto. 












uma coisa que se tornou um porto-seguro pra mim foi the office. essa série tinha meu selo de desaprovação nos três primeiros minutos do primeiro episódio e perdurou por uns bons até, de fato, eu cair no charme que só ela consegue ter (segundo eu e o fã clube de 3 membros). é um negócio inexplicável. não é a coisa mais perfeita do mundo, mas ainda assim, como danado ela consegue ser tão especial? tanto que agora consigo dizer: é a mais especial de todas. depois de 2 anos, finalmente consegui chegar ao fim. não foi por falta de tempo, nem de vontade. tinha dias que devorava, outros que me forçava a não ver mais do que um, não queria que acabasse. ficava meses sem assistir, só pra poder me apaixonar de novo. não que coisas boas devessem durar pra sempre, mas por quê não? nunca tive algo assim tão intenso com uma série. felizmente dá pra rever. já quero tudo de novo e de novo e de novo...

era a única coisa imprevisivelmente nova que eu me permitia consumir, pois em algum momento perdido de maio, devo ter entrado num portal pro passado e ficado por lá mesmo. como disse em algum lugar por aí, permaneço por agora, revendo, relendo, revisitando, morando no passado. 

tô vendo bojack horseman tudo de novo, pensei que seria uma má ideia. não que a série seja ruim, mas o Bojack é uma pessoa extremamente narcisista, autodestrutiva, nociva ás pessoas ao redor dele. como disse, não é bem o meu melhor momento pra assistir monólogos e diálogos existenciais. é desesperador em alguns momentos, admito, mas ainda assim ela consegue me trazer um pouco de alento. saber que não tô sozinha, sabe? da primeira vez, não tinha percebido muitas coisas, muitas. as celebridades não deveriam ser tão julgadas artificialmente. a felicidade é meio abstrata. eu amo demais o episódio quatro da terceira temporada.

uma fala do Bojack:

“Kelsey, in this terrifying world, all we have are the connections that we make.”
(tradução livre: Kelsey, neste mundo assustador, tudo que temos são as conexões que fazemos.)

eu, minha mãe e meu pai, raramente assistimos coisas em conjunto, mas começamos a ver um episódio por dia de masterchef brasil. são quase duas horas de programa, pra quem não sabe. tem sido divertido dividir algo com os dois. quando o chefe Jacquin fala 'tompero' por causa do sotaque francês, e todo mundo começa a imitar, sinto que vale a pena. 

tenho visto muitos vídeos sobre zines e resolvi fazer o meu primeiro, mas não tem dado muito certo, já que as minhas ideias parecem tudo meio vazias e sem sentido. vou deixar aqui só pra ficar como registro de várias tentativas diferentes. (isto não termina aqui)

 

cada estação tem sua fase, e felizmente, a do inverno já tá quase acabando por aqui. 
terça que vem, tomarei a primeira dose de alguma vacina. 
fiquei preocupada quando visitei alguns blogs que acompanho e eles terem sumido. continuo visitando os links, pois espero que apesar disso fique tudo bem com todo mundo. 

por enquanto, é isto, esses eram alguns dos assuntos pendentes que queria comentar (de forma pessimista demais, provável), mas como isso aqui já ficou grande, ainda faltam oito. 

⭐ p.s.: achei tirinhas da Mafalda no issuu e fiquei feliz, pois tem todas. aqui o link do primeiro volume pra quem se interessar. tá no idioma original (espanhol), ás vezes não entendo, mas na maioria das vezes dá. 

4 comentários:

Bastião disse...

eu acho esquisito de mais lidar com as reações dos outros às coisas que a gente faz, mas também tem um pouco do sentimento reverso, de que as vezes fico nervoso de responder coisas pras quais ninguém pediu uma resposta. Ser uma pessoa é esquisito de mais.

Resolvi escrever esse comentário porque acho que divido bastante dessas inseguranças com relação ao que escrevo e falo e etc. Também porque essa coisa do existencialismo me atormenta um bom tanto e porque sempre que eu vejo alguém nervoso com isso acabo sentindo um impulso de compartilhar um livro que me ajudou bastante a lidar um pouco melhor com essas coisas que é o Mito de Sísifo, do Albert Camus onde o autor se debruça sobre os porquês da vida. Ele meio que faz um apanhado histórico do que já foi estabelecido como propósito de vida por outros escritores e faz as críticas dele de um jeito que eu particularmente acho engraçado de mais. Talvez entre ele e os autores que ele comenta possa existir alguma ideia que funcione pra você, pode ser que não também, mas eu gosto de pensar que 20 por cento de chance de alguma coisa é melhor do que 100 por cento de chance de nada.

p.s.: eu particularmente achei sua zine massa de mais e colaria pelo menos metade dela na minha parede se eu tivesse uma impressora disponível na minha casa, principalmente os da calça jeans e a casa de domingo eu achei legaizíssimos. Fico curioso de ver o que você vai fazer depois disso.

É nóis, até o futuro o/

Bruna de Lima disse...

Boa sorte na psicoterapia! Deve ser tão bom ter aquela atenção e falar sem receios naqueles x minutos.
Amo The Office com todas as forças, mas infelizmente Jim e Pam viraram a minha meta de relacionamento e sei que será difícil alcançar :c

Larissa Fonseca disse...

Nicole,

Continue escrevendo. Continue criando. Ajuda pra caramba. A gente, quando se dedica à arte, acaba criando um tempo na rotina para transcender. E o resultado nos faz muito bem. Porque, ainda que, muitas vezes, estejamos expurgando a parte mais assustadora nossa, de algum jeito o resultado dá um orgulho imenso.

Olha que coisa mais linda os seus desenhos.

Claro que eu desejo que você procure ajuda também. E que aproveite todos os momentos bons que te surgem.

Um abraço sincero. Fique bem.

arantxa disse...

eu basicamente comentei o que eu queria ter comentado aqui naquele seu comentário pra mim (socorro), mas ainda assim:

1. queria te dar um abraço em tantos níveis. o maior deles é porque eu me sinto de forma muito parecida.
2. desejando sorte com a terapia! eu recomendo, porque hoje não sei quem eu seria sem a minha psicóloga. torço pra você encontrar tudo o que te ajude e faça bem.
3. american football!!!!!!!!!!!!!
4. vou aceitar meu abraço grátis com a zine.

às vezes eu queria conseguir fazer comentários grandes e intrincados, mas tudo o que eu penso é que queria estar sentada no meio-fio da rua no fim da tarde dividindo um saquinho de pipoca com você. às vezes existir é difícil, e aí existir online é mais ainda.

beijos e abraços, nic. <3