quando descobri a solidão

já faz um tempo em que parei pra escrever e conversar comigo, sobre mim. não é falta de tempo, é só que não sei bem em que pé anda as coisas por aqui. estou andando em círculos enquanto falo (e na maioria das vezes é assim mesmo). saudades da terapia. andei querendo entender o motivo de ter tomado tantas decisões estranhas, então sentei aqui pra escrever. 

tenho me permitido conhecer mais pessoas e passar tempo com elas. sem medo de me constranger, de não saber lidar com o próximo passo, com o assunto seguinte. criando habilidades sociais, sabe? exercitando esse negócio. até de criar laços novos, outras conexões. ir além das com quem já me sinto confortável. ninguém é obrigado a fazer isso, ainda mais sabendo de seus limites, mas eu sei que até então eu posso fazer escolhas. se são certas ou não, deixo que o tempo diga.

e aí, tendo como ponto de partida o fato de que ser introvertida não tem nada a ver com solidão, por que cargas d'água me sinto sozinha? o tempo inteiro. não sei quando isso exatamente começou, pois vejam bem, eu nunca vi problema em estar sozinha. gosto da minha companhia. no entanto, de repente me enxergo perdida no espaço estando em lugares e entre pessoas que conheço. percebo que aqui dentro há um buraco muito fundo, um poço, onde eu mesma me enfiei. não sei o que tô fazendo. não sei por quê tô aqui. como foi que cheguei. percebo que nesse interior do estômago, do coração, da alma? é turvo e escuro. há uma menina encolhida lá em baixo, distante, grito por ela, mas ela não me ouve.

ás vezes esqueço desse vazio. são momentos muito bons, raros. vivo por eles e á procura deles. trechos de vida onde tenho a plena certeza que o mundo é maior que os meus demônios. o mundo é habitável, vale a pena estar nele. 

por favor, nicole do futuro, lembre do dia que visitou o morro pela primeira vez. de ver a cidade de outra perspectiva. tantas luzes, tantas vidas diante dos olhos. você se sentiu pequena diante do mundo. se sentiu gigante perante os seres que te assombram. se sentiu em paz. 

eu sei que a minha busca por conhecer outras pessoas tem a ver com desapego também. ter consciência que ninguém é meu, apesar de ser mais fácil querer que seja. esse lance de posse é complicado. todo mundo pode ser um espírito livre no mundo, não quero roubar esse direito de ninguém. é só mais fácil, aceitar tudo assim nessa lógica de: seja apenas minha amizade. parece que sua existência faz mais sentido no mundo, viver pela outra pessoa. sabe... essas coisas tem prazo de validade e a gente finge que não, pois o que importa é o enquanto essa relação existe. enquanto esse infinito durar. e não tá errado.

esse pacto de sangue consegue ser muito bonito, convidativo, mas quando as coisas não acontecem do jeito que a gente quer, dóí. seu mundo cai. entre idas e vindas de uma nova amizade, de um novo amor, quantas vezes será preciso reconstruir do zero? quantas forem possível. 

mas será que você não pode ser uma cidade que cresce a cada passagem? será que você não pode viver sendo um ônibus que viaja e faz estadias por cidades diferentes? sendo o que for, você não precisa se autodestruir toda vez que vai embora, toda santa vez que alguém vai embora. é claro que dói, mas não precisa ser só dor. não precisa. pode ser tudo e ao mesmo tempo.

ás vezes você descobre que nasce só e morre só. ás vezes você nem percebe. cá entre nós, bem aventurados são os que desconhecem dessa verdade. sempre que puder, voltarei a parafrasear essa fala do BoJack:

“Kelsey, in this terrifying world, all we have are the connections that we make.”

(tradução livre: Kelsey, neste mundo assustador, tudo que temos são as conexões que fazemos.)

o quão difícil é conversar sobre isso com as pessoas? não é sobre ser menos ou mais verdadeiro estar com elas. é sobre o que há em mim, sobre um vazio com o qual se aprende a conviver. sei que é necessário tempo pra compreender e digerir. o que não precisa de tempo? quem tem esse coração veloz?

 

a Lio da banda Tuyo me marca sempre que pode, adoro ouvir o que ela tem a dizer. uma vez disse que talvez o mais importante numa amizade seja a manutenção do carinho. não precisa de mais nada. se andam te exigindo mais do que isso, é bom rever. talvez a amizade seja uma relação que não envolva aquela carga pesada de expectativa que outros tipos de relação parecem exigir. talvez. gosto dessa ideia.

nicole, você ainda vai morrer toda vez que alguém prometer um elo inseparável e partir, mas você não vai sumir por completo, por que você não é a outra pessoa. você é você. você é inteira. outras partes virão pra te acompanhar, assim como você irá complementar a vida de outras pessoas. se tudo acabar, você ainda será você. 

essa conversa não acaba aqui. esse foi um momento de descoberta e eu tenho muito a aprender. sempre.

12 comentários:

Vitória disse...

eu amei tanto, me identifiquei tanto.

Snow ★ disse...

Gostei desse pensamento Nicole, me lembra de mim mesma, quando estou numa pilha de nervos de desespero mas, sabe de algo curioso minha cara? É que boa parte dessas inquietações caíram por terra em reflexões que tive conforme lia "A Arte da Felicidade" de Dalai Lama e Howard C. Cutler, sim, um mershanzinho bobo mas caso tenha interesse é uma ótima perspectiva para se ter em mente. Principalmente quando ela nos mostra de maneira simples, como somos, e seu pensamento me lembrou muito de um trecho onde parei semana passada. O de não mudarmos por simplesmente sermos mimados e nos recusarmos a ter algo que não nos apetece.

Eu também adoraria ter uma amizade verdadeira, tipo aquela do Roberto e do Erasmo mas algo que também sei é dar tempo ao tempo (e de aproveitar as oportunidades ofertadas) e não sei se dizer isso deu uma emenda bacana a sua conversa interna huahuahua

Um beijo, um abraço forte e até outra horinha!

nicole e. martins disse...

um abraço em tu, Vi. <3

nicole e. martins disse...

olá, olá snow! sempre bom te ter por aqui. nunca ouvi falar desse livro, mas parece uma perspectiva interessante. que bom que ele fez sentido pra tu, espero ter oportunidade de ler em algum momento. obrigada pela recomendação!

acho que a questão da amizade verdadeira é subjetiva. no meu caso aqui, não questiono a veracidade da amizade, acredito que elas são reais, mas ás vezes a conexão acaba e a culpa não é de ninguém. ela só se desencontra. é triste quando acontece, mas a vida é assim feita de reencontros e desencontros. :)

essa amizade do Roberto e do Erasmo que você citou tem a ver com tempo, né? uma longa amizade e tal. as pessoas precisam estar muito dispostas pra manter o relacionamento, superar tudo. eu tenho uma amizade assim :) ás vezes é muito difícil, principalmente quando você se apaixona por ela haha, mas é possível configurar o formato do sentimento, se quiser. é muito amor, então é um processo lento e dói, mas diálogo é base pra fortalecer, pra superar, transformar as coisas.

e você contribuiu sim, sempre bom refletir de novo! :)

um super abraço e até qualquer hora, snow <3

Lucas disse...

só quero dizer que sou apaixonado pela Tuyo! sinto falta da minha terapia também! no mais, aconselho que você faça uma análise (de preferência com uma psicanalista lacaniana). acho que vivo em retalhos, e esse texto fez costura em mim.

GABES disse...

eu precisava muito ler isso com todo o tempo do mundo!!! foi como um abraço e agora as cores até estão mais vibrantes!! um super abraço de volta pra ti nic, fica bem!! tudo nosso, nada deles!!

Liih disse...

Sentir solidão é péssimo né? :( Acho que as vezes todo mundo se sente assim. Somos humanos, criamos laços, criamos vínculos... Somos feitos disso. É por isso que é tão difícil enfrentar o rompimento deles. A sua reflexão final é muito interessante. Se repetir isso pra nós mesmos fosse o suficiente pra gente não sofrer... Ai como é difícil né!

Com carinho, Aline
✨ Violets for Roses ✨

Annie disse...

Oi! Tudo bem? Você não está sozinha nessa. Eu me identifiquei muito em todas as palavras que você disse aqui. Compartilho desse sentimento contigo e dói! Dói muito deixar ir. Ficar e se acolher é mais difícil ainda... o mundo não nos prepara pra isso.

nicole e. martins disse...

tuyo fãs sempre bem-vindes aqui <3 uma perspectiva diferente, obrigada pela recomendação!!

"acho que vivo em retalhos, e esse texto fez costura em mim." que bonito :')

nicole e. martins disse...

oi gabi :) vai tudo se ajeitar. fico feliz que tenha feito sentido pra ti, fica bem também!! um super abraço em tu <3

nicole e. martins disse...

oi Aline! ah se fosse suficiente... é muito difícil mesmo, mas a gente tenta mesmo assim!! um abraço em tu <3

nicole e. martins disse...

oi Annie, tudo bem sim e com você? a gente nunca tá só nessas coisas, né? acho muito engraçado. parece ser a pior coisa do mundo, mas acho que é por ser um sentimento solitário mesmo. queria que tivesse um manual pra lidar com isso haha. espero que esteja tudo bem por aí, um abraço em tu. <3