fases, liberdades e lances não tão subjetivos assim

ás vezes, prefiro não ser esse ser presente e encarcerado à realidade. só pra poder sentir a respiração mais lenta e os seres se moverem devagar. alterando a velocidade da vida, dos pensamentos, das emoções. ligeiramente mais livre. devagar sobre ideias mais simples, menos palpáveis, mais imaginativas. ligeiramente mais livre, agora com mais certeza. 

Basket Case (1982)
tenho assistido muitos filmes. esse passatempo ocupa todos os espaços vazios e não-vazios da minha cabeça. não exatamente por ter me obcecado, mas por encontrar nessa maneira uma carta branca, pra me tornar uma ausência nas ações da vida. pelo menos não é tão ofensivo á minha saúde. não que eu me importe tanto com ela ao ponto de fazer drásticas mudanças. não que eu desgoste de ver filme, gosto tanto que preciso me policiar. tem dias e dias.

já faz alguns meses que movi a cama pra baixo da janela do quarto. nessa busca incessante por falsa liberdade, escapar do teto, das paredes. minha cortina caiu, à propósito e literalmente. durmo e acordo sob a lua, o sol e as estrelas. ilusão geralmente é de graça, mas essa custou. agora de cortina pendurada fica uma canga sublimada, colorida, com vibes esotéricas que não tenho.

nessa busca pelo escape tento de outras formas também. saio, caminho, converso, me coloco em situações insalubres, me entrego a coisas que provavelmente não me fazem bem – apesar de me sentir, óbvio que não o suficiente, ainda me mantendo consciente. dentro dos limites que me foram solicitados, não são os meus limites.

do que tanto fujo? talvez dessa sensação... da alma não caber mais no corpo. procuro aliviar a pressão que é ser confinada à própria carne, ao próprio corpo. meu sobrenome é angústia. 

"tudo coisa da minha cabeça" penso, e que bom, porque não é real. tenho aprendido a gostar de quando não é. criar problemas na cabeça, imaginar coisas absurdas e descobrir numa risada nervosa que tudo é resultado da mente cansada. talvez seja como experimentar ter um pouco de poder, um tanto de controle sob a vida, só pra usar um pronome possessivo, de vez em quando.
05.04.2023

até parece que já escrevi essas coisas em outros momentos, mas acredito que nada aqui seja repetição do passado. aliás, seria afirmar: ainda sou a mesma, destinada a ser um fracasso, acreditando que nada do que eu faça seja bom o bastante e que provavelmente, não sou suficiente nem pra mim mesma. seria bem ruim se isso fosse verdade, né? seria terrível voltar a acreditar nessas coisas... né? ainda bem que é possível desacreditar, ter fé em outras coisas.

voltar pra mim sempre me traz aqui. digo, literalmente aqui, nesse site. e aí, por isso, ás vezes me pergunto se preciso de aprovação das pessoas pra me afirmar de alguma maneira. sinceramente, prefiro não descer essa ladeira. talvez numa ansiedade de sentir alguma coisa parecida com conexão, numa solidão compartilhada. assim é melhor. gosto de pensar que tudo é uma possibilidade quando uso "talvez" demais ao escrever. não um vício de linguagem, não uma fuga de julgamento, claro que não. tenho tentado me romantizar, aparentemente. 

18.04.2023
é difícil escolher no que acreditar, ás vezes. 

vi em algum lugar que a grandíssima maioria das pessoas é iniciante nas fases da vida. isso fez muito sentido pra mim e é até reconfortante. sou esse texto de parágrafos de tamanhos desproporcionais, e ainda sou outros mais fluídos também. acho que, a longo prazo, as coisas se ajeitam. 

nesse último final de semana, mudei de casa pela sexta vez com a minha família. aos poucos tenho aceitado que ainda não sendo para morar por minha conta, tenho outros processos pelos quais preciso passar. não sei exatamente como e nem pra onde tenho que ir, se estou fazendo as coisas da maneira correta (se é que existe certo e errado no manual da vida), mas tenho seguido, com relutância admito, não desistindo, em frente.

2 comentários:

Snow ★ disse...

Nicoliiiiii! Me sinto mal em ser redundante com relação aos seus escritos mas, sempre que me deparo com uma postagem sua, a sensação que tive lá na primeira vez que entrei no "estranho peixe" permanece. A estranheza. Aquela sensação de um sentido alienígena sendo desperto dentro de mim se agita e mais uma vez caio no lugar comum de não saber como definir o que sinto para algo além do melodramático. É poético e um tanto quanto profundo, sem exatamente ser.

Algo aqui me fez lembrar de anos passados mas com motivações diferentes.

Te ler sempre me faz revisitar a mim mesma em versões anteriores e isso por si só, é um grande aprendizado.

Obrigada e uma ótima semana (ou o fim desta) para você minha cara.
Um abraço apertado,
Snow ★

Marina Menezes disse...

Oi Nicole! Você escreve muito bem, consegui sentir daqui um pouco de angústia e melancolia no seu texto. Quando você falou do cansaço e de inventar coisas na cabeça, lembrei da música "há tempos" do legião urbana (sei que virou moda odiar essa banda, mas curto muito essa música e a letra dela).

Estou vivendo uma situação parecida com a do primeiro paragrafo, queria poder seguir meu rumo, mas ainda não é possível. Resta esperar (e ter esperança) né. Espero que as coisas melhorem pra nós

A proposito, curti muito o novo layout, ainda não tinha visto.

Bjs bjs!