vida de plástico, sonhos de vidro

nunca lembro dos detalhes de um sonho. seria compreensível que de pesadelos a minha memória guardasse o máximo e com cuidado, mas nem assim. há três noites seguidas que pesadelos invadem o meu sono. esse que já me é tão precário, tão leve. espero que de brincadeiras a minha mente se faça e que não sejam, nem antecipem maus presságios.

Edvard Munch.
The Hands
(1895)
é engraçado dizer que sonhos podem ser reais, mas os meus geralmente parecem. sempre com pessoas e lugares que reconheço, em situações muito possíveis. nenhum dos pesadelos que tentarei revisitar aqui foge á essa regra. 

o primeiro é uma situação desagradável com a minha mãe, de ânimos exaltados, estamos discutindo. não vou saber dizer o motivo. havia um espelho, meus braços apoiados na pia, a cabeça baixa. ouvi sua voz proferir insultos, incansavelmente. não sei quanto tempo durou.

estávamos bem, á propósito. no dia seguinte, não dei importância.

o segundo é estranho de explicar, de lembrar. há pessoas que reconheço e outras não. estamos no centro da cidade, em algum tipo de trabalho de campo. há uma briga entre estranhos na rua e um deles está armado. as pessoas correm, se dispersam. um amigo que estava comigo corre, some. isso é importante pra nicole do sonho, ela sente preocupação e abandono. é um sonho longo, de perseguição e correria. acordo.

levei umas horas pra lembrar que vivi nesse sonho. ás vezes, acontece esquecer completamente. 

o terceiro pesadelo faz parte do episódio de uma longa noite. acordei ás duas da manhã, com cólica. o remédio não desanimou a insônia que me manteve acordada por um bom tempo. rolei na cama incontáveis vezes. houve um breve momento em que senti que estava prestes a dormir, quando senti a presença de alguém no quarto. 

sinceramente, preferia omitir essa parte, pois não queria admitir pra mim mesma que tinha tido essa experiência de verdade. não sou uma pessoa religiosa e como a boa cética que sou, ou melhor, a "pobre de espírito", como dizem algumas de minhas crentes parentes, ignorei. eram quatro da manhã quando ouvi a porta do banheiro fechar. era meu irmão, com muita tosse. o sono veio.

o sonho também envolve a minha mãe. estávamos eu, ela, alguns parentes, indo até uma igreja. não pela minha vontade. eu os acompanhava. num canto do templo, minha mãe junto á uma tia, chorava e desabafava. ela estava nitidamente decepcionada comigo e eu sentia isso tão profundamente que me doía o peito. pela minha falta de interesse na igreja, pelas festas que eu frequentava, pelas horas mal dormidas que ela precisava suportar. eu era uma decepção. lembro de ter dito antes de acordar: "estou com os dias contados". 

muitas coisas se encaixam no que a nicole desse sonho disse. muitas coisas.

espero que essa noite seja tranquila, pois a minha mente obviamente não está. 

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