it used to be me

quando viro a chave e abro a porta, todos os sons se dissipam. esse é o dado momento em que percebo os estragos que a vida me fez. o cansaço recai sobre os ombros. a memória já não está tão bem exercitada. não tenho encarado meu reflexo no espelho. o choro agora sai com dificuldade. aquele hematoma que não sara, aqueles calos que não secam. quem é essa que vive dessa maneira, toma esses tipos de decisões e se machuca a cada passo dado?

preciso me resguardar, ás vezes. sumir por uns tempos. não atender a nenhum chamado. faltar com presença, responder mensagens como se em tempos de cartas. sempre acontece quando vou além dos meus limites. é fácil e difícil, as condições oscilam. nem todo mundo entende, tem paciência. a verdade é que esse tempo em que preciso respirar com consciência é um direito e luto, vou á guerra pra ter.

encarei uma foto minha diante do espelho e mal me reconheço. como se fosse novidade esse lance de não me reconhecer em imagens, sobre isso já divaguei aqui. talvez eu tenha entrado em choque, quer dizer, descobri que estou mais velha do que estava a um ano atrás. uau. o quanto é possível envelhecer em tão pouco tempo? 

engraçado mencionar, pois recentemente me senti confortável em voltar a postar fotos com a minha cara no meu próprio instagram. ora, quem diria? 

"descobri recentemente, ao que parece, também sou gente. não sob o desejo de ser ou tampouco o de saber ser, mas vou sendo. quando não sendo, descubro que também sei ser outras coisas. talvez transbordar do próprio corpo, não caber mais em si, não seja necessariamente ruim e muito menos uma grande descoberta. se achar em outras maneiras de ser é muito bom, importante." legenda de uma das fotos.

sem querer ser a jovem que descobre o tempo e viu só no que deu, mas já sendo, tudo isso é novidade pra mim. nunca tive essa idade antes, nunca tive a cabeça e essas ideias que tenho hoje ou os pensamentos que estou tendo agora. a vida nunca foi tão exaustivamente curta e plena em seu caos. 

é a gota serena da mudança.