existe uma sala cheia de arquivos enormes, com gavetas maiores ainda, colecionando retratos, pedaços de lembranças, fragmentos de jeitos e contrastes, dentro de mim. guardando maneiras que ele sorriu quando se jogava no momento, ou em seus silêncios, muitos dos olhares de horizonte, ou até imagens daqueles passos ansiosos. esses sons e recortes, que meus sentidos gravaram, que perpetuam a minha insônia, abrindo e reabrindo caixas, revivem cenas em sépia, como um vídeo caseiro de pixels desbotados, de novo e de novo e de novo.
colecionar desses fragmentos é uma tarefa que eu já sei de cor. não tão bem armazenadas, tampouco organizadas. algumas cópias foram perdidas e dou graças a qualquer bom deus, que seja. o que eu faço com tanta memória? onde enfio tanto sentimento? não cabe mais aqui. ando transbordando pelas beiradas e ele que está sempre por perto, me vê. o pior é que ele me vê. não é algo que eu tenha controle, se é que me entende. isso de transbordar. isso de me ver.
sei que a minha mente já deveria ter parado de rodar em sessões de cinema os mesmos filmes, mas o coração é a minha mais pura e teimosa parte. insiste em rever essas cenas que se renovam a cada dia que o vejo acenar pra mim novamente.
enquanto as filmagens acontecem, minha mente é livre e vaga à procura dos melhores ângulos. ele sempre dá um jeito de me dar os melhores. querendo ou não. agradeço por estar presente para vê-los. mas aí ele acena, dessa vez, se afastando pra seguir o próprio caminho. por entre veredas que não posso ver, que não pertenço. as filmagens são interrompidas e uma próxima sessão repetida começa. de novo e de novo e de novo.
até que é normal quando diretores tem seus atores preferidos, né?
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