em meados de 2016, se não me falha a memória, comecei a tirar todas as maiúsculas dos meus textos no instagram. infelizmente, essa conta não existe mais e perdi tudo que tinha nela. foi um momento de crise, de verdade, ter simplesmente deletado a conta. uma pena, queria poder lê-los agora, mas enfim...
não sei se perceberam, mas muita gente hoje em dia opta por escrever com a inicial minúscula, tipo, como faço aqui. tem como você só mudar a configuração automática de usar inicial maiúscula, no celular e tal, é provável que você já saiba disso. esse é um tema já ultrapassado, saturado, até porquê quando se fala de internet é sempre difícil se manter atual. no entanto, se a gente para de refletir sobre as coisas, elas simplesmente passam por cima da gente. então, se permitem voltar a essa discussão, se é que houve uma, por quê será que (algumas) pessoas decidiram adotar as letras iniciais minúsculas?
primeiro, achei esteticamente mais bonito escrever sem as maiúsculas. todas elas no mesmo tamanho é agradável de ver. (há quem discorde, certamente). segundo, pensei também, não é muito justo só a primeira letra ser grande e as outras pequenas. sei que é uma hierarquia lógica, já que elas marcam o visual início e fim de uma frase, mas injusta. injusta.
aliás, não vim aqui falar de lógica, mas de construção de sentidos.
além disso, acreditei piamente que escrever dessa forma me garantiria informalidade. provavelmente, não querendo me preocupar em me transparecer séria às outras pessoas... mas até que ponto isso também não afirma que eu mesma não me dou crédito? de que não considero importante as coisas que digo ou penso? não que tal coisa signifique tal coisa, mas são questões que realmente me passam pela cabeça.
belo mundo onde você está, por Sally Rooney |
esse é um diálogo retirado do livro da Sally Rooney. a fala do Simon é muito característica de uma geração que cresceu com a internet, que tenta acompanhar as mudanças, na qual também estou inclusa. talvez a autora esteja sugerindo algo ou os personagens estejam sendo muito específicos.
é muito legal escrever assim e particularmente acho que dá um ar descolado, moderno, desconstruído também. acredito que a rede social que melhor aceita desconstrução de padrões linguísticos é o twitter, mas a gente sabe que as pessoas só aceitam até certo ponto. digo, desconstruir padrões.
há alguns anos atrás, tive uma conversa com uma de minhas professoras de jornalismo Fabiana Moraes, a maioral, (já citei ela aqui) sobre esse lance das maiúsculas. ela também tirava as ditas cujas do início das frases. percebi que já faz um tempo que ela tem voltado a escrever nos padrões. acho que depois de ter ganhado tanta visibilidade publicando textos (maravilhosos) na coluna dela no intercept, recebendo ódio gratuito o tempo inteiro e algumas tentativas de processos, por motivos vários, talvez ela tenha sido coagida aos poucos a se adequar aos termos. com menos espaço de reflexão e mais verdades grifadas, graças a falta de interpretação textual dos outros.e sei que dá pra ir muito além. ás vezes relembro do tweet que analisava a quantidade de k's que você pode usar numa risada, dependendo da sua intenção. quer dizer, se você for uma pessoa que dá risada com a letra. K's maiúsculos é uma intenção diferente dos k's minúsculos, para além da quantidade. já vi análises com tipos de risada também, bater a mão no teclado sem se preocupar com as letras que saírem (mas ainda assim se importar com uma sequência esteticamente satisfatória). acho ainda mais válido cada um ter o seu sistema pessoal de como lidar com pessoas e situações.
ainda que só dependesse de mim, talvez, criar uma personalidade só pra falar com a pessoa, seja uma solução para todos os problemas. afinal, impedir que essas variações de linguagem existam não me parece muito interessante. tenho um amigo que parece estar sempre usando do português arcaico na internet (e tá tudo bem), mas ás vezes fico sem graça em usar um monte de emojis, enquanto ele usa ponto & vírgula corretamente, junto à conjugação correta dos verbos. me sinto COAGIDA a fazer o mesmo. alguns dirão que é caso de terapia, eu digo que é empatia, alteridade, cordialidade, urbanidade, SER LEGAL com a outra pessoa. ai não sei, acho que viajei. felizmente, sempre bom lembrar, ninguém é obrigado a nada. :)
2 comentários:
Oi Nicole, eu li esse texto faz uns dias e tinha começado a escrever um comentário já mas alguma coisa aconteceu e eu desliguei o computador sem enviar e agora tô de volta aqui!
Você escrever com minúsculas foi uma das coisas que eu achei interessantes na primeira vez em que encontrei o estranho peixe. Eu não sabia exatamente qual era mas achei interessante perceber que claramente existia uma intenção no seu modo de escrita. Foi um coisa que me impulsionou a escrever de maneira mais consciênte do meu próprio estilo de escrita e de comunicação, acho que a coisa toda passa bastante pela questão do estilo.
Eu estudei design gráfico e por um bom tempo tipografias foram uma pequena obsessão minha que sinto que caia um pouco em um espaço parecido, um texto com serifa soa diferente sem serifa? Não sei, mas sinto que a escolha as vezes constrói um tipo de atmosfera. Lembro que minha professora de Identidade Visual uma vez me disse que se fosse pra começar as frases com letra maiúscula eu ia precisar usar a pontuação correta e que no caso de começar com minúsculas não era necessário. Achei engraçado.
Particularmente eu gosto de saber que tem alguém por aí que não usa as maiúsculas. Não sei se isso diz algo sobre a importância do conteúdo, mas muda um pouco o contexto onde ele é acessado e acho isso bastante interessante.
Ao mesmo tempo também penso sobre as letras de mão e sobre como as escritas são afetadas pelos espaços e materiais disponíveis. Mas agora acho que já tô viajando, enfim, obrigado por compartilhar os pensamentos ^^ até a próxima, é nóis.
*eu reli meu comentário anterior e achei que podia editar ele um pouquinho
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