a poesia na conquista de seu amante (você)


Dead Poets Society (1989)
esse ano eu tive contato com muitos poemas. não era a minha primeira opção de consumo em arte, mas não por desgostar ou por falta de interesse, era um não conhecer. o meu primeiro contato (verdadeiro e interessado) foi com os poemas da Larissa Fonseca. meu impulso foi regado pela poesia dela. aos poucos ia percebendo os versos, as nuances... nos momentos em que abria para lê-los percebia que havia uma sensibilidade (poética) que eu precisava desenvolver mais. também precisava de um chute na canela (metafórico).


O poste na chuva:
guarda-chuva de si mesmo.
Pela tarefa santa
de suportar insetos:
a auréola em torno
de sua cabeça.

Outro devaneio molhado pela chuva mansa, As Moscas na Janela.

quero dizer que, eu e a poesia não fomos devidamente apresentadas. entre nós, havia uma barreira invisível (que eu mesma criei) de muros muito altos. acho que faltava alguém que me puxasse pelo braço e me ajudasse na subida. encontrei alguém que foi um empurrão direto à parede de tijolos. aquele chute. Elayne Baeta me fez descobrir que gosto muito de poesia. (acabei relendo 2 meses depois o livro de poemas da bonita que eu já nem aguento mais me repetir sobre ela). então, se o golpe doeu? doeu sim, mas foi muito bom.

se eu soubesse que era assim tão bom teria me adiantado logo em ler tudo que me desse na telha, mas claramente não teria levado aquele chute surpreendente da Elayne, ou recebido as provocações dos poemas da Larissa. entendi que em pequenos passos, o contato com os versos, tende a ser uma conquista de seu amante. talvez os poemas delas não chamem atenção aos olhos alheios de forma como aos meus chamaram. acredito nessa conexão especial também. o que faz sentido para mim pode não fazer nenhum para você e vice-versa.

fato é que um sentimento foi crescendo muito forte dentro de mim. 

Lya Luft foi outra poeta que tive contato nesses primeiros 3 meses que se passaram. gostei de alguns dos poemas da coletânea Para Não Dizer Adeus, os quais conversaram muito comigo, mas acho que não senti aquela sensação avassaladora que a poesia me deixou experimentar. vou continuar lendo mais coisas dela, pois acho que valha a pena. 

Quando eu era menina,
a verdade parecia estar
nos livros:
ali moravam as respostas
e nasciam os nomes.

Quanto mais procurei,
mais me perdi
na trilha das indagações:
as respostas não vinham,
a verdade era miragem,
a busca era melhor que a
descoberta,
e nunca se chegava.

(Viver era mesmo sentir aquela fome)

    Sina, poema 55 da coletânea Para não dizer adeus.

acho que ler poesia é ser poeta também, sabe? é como falar numa outra língua. entender a poesia do outro poeta é uma conversa feita entre o teu espírito e o de quem escreve. se compara a ter poetas adormecidos habitando nossos corpos e que são acordados quando entramos em contato. entender já é mais complexo. a minha poeta interior conversando com a poeta interior da Lya Luft, por exemplo, é que faz a mágica acontecer. acho que faz sentido. se não fizer, tudo bem. 

o importante aqui foi ter percebido de que preciso muito dela, da arte. (quase afirmei que todo mundo precisa, mas quem sou eu na fila do pão?) seja consumindo ou produzindo, é uma necessidade vital (para mim) estar em contato com ela. quando ela me provoca percebo que há vida aqui dentro. que existo, que penso, que sinto. ela faz com que eu nomeie sentimentos que nem tem nome. faz sentir vontade de subverter tudo, de virar o mundo de ponta a cabeça, de pular o Everest sem paraquedas, de habitar outros planetas, começar de novo, diferente. ser infinita.

que venha mais poesia! que eu cresça e venha a não caber mais em mim.

14 comentários:

Larissa Fonseca disse...

Que honra e alegria imensas me ver citada em seu post, ainda mais de uma forma tão maravilhosa...! Isso é muito importante para mim. De verdade. Muito-muito obrigada, Nicole!

Achei a coisa mais linda isso que você disse, sobre ler poesia, sobre "ter poetas adormecidos habitando nossos corpos e que são acordados quando entramos em contato". A poesia te habita. A arte dança com você.

Continue criando!

Obrigada, mais uma vez ♡♡♡

Um feriado e final de semana repletos de encantos pra ti! Abraços ♡

nicole e. martins disse...

eu que agradeço Laris, por nos presentear com o que você faz! e ai, você gostou? fico feliz :) acho que é uma forma de enxergar... que teus dias sejam igualmente encantados! super abraços <3

Larissa Fonseca disse...

(Eu amei ♡♡♡♡♡♡♡♡)

'lana disse...

Amei sua analogia da conquista do amante. Pra falar a verdade, meu unico contato com poesia é a música e alguns músicos específicos. De resto, me falta muita leitura e eu já tentei por varias vezes, mas nunca engatei em nada puramente pela poesia escrita.

Mas apesar disso, concordo com tudo o que você disse principalmente ao que se refere a arte no geral, assim como a poesia por si só, a arte é um despertar e é como falar uma outra língua. E se você não disse, eu vou dizer( ̄︶ ̄)↗ todo mundo precisa de arte, seria bom que todo mundo tivesse seu despertar pra ela.

Vanessa disse...

Eu nunca gostei muito de poesia, acho que porque eu sou mais das exatas. Números fazem sentido para mim (ou pelo menos faziam quando eu estudava kkkrying), agora palavras em versos me confundem XD

GABES disse...

lindo demais tudo isso aaa!! estou emocionada :') não conhecia a elayne baeta e nem a lya luft e fiquei com muita vontade de ler tudo delas. os poemas que tu escolheu para estarem aqui também, melhores impossíveis! sinto, que tbm tenho esse sentimento com poesia (todo o sentimento que tu descrever ijfidfjsos desde o muro até os nossos poetas, nossos eu liricos estarem conversando dessa forma doida), mas me arrisco de vez em quando. adorei conhecer mais nomes femininos, acho que é isso que falta um pouco, o conhecimento e indicação do que ler. muuito obrigada nic!! :)

GABES disse...

aaa esqueci de dizer: adorei o novo design e os sites ali na aba de weblinks, todos demaaais!!

nicole e. martins disse...

ai aksjkas fico feliz que tenha gostado :)) acho que as vezes acontece de você encontrar uma poesia que converse contigo ou de ter uma conexão especial com algum(a) poeta, sabe? espero que um dia aconteça!! eu sentia o mesmo que você, mas um dia pode acontecer, enfim, todo mundo precisa de arte... seja ela da forma que for, né? também acredito nisso :)

obrigada por vir aqui, Lana o((>ω< ))o

nicole e. martins disse...

faz todo sentido aksjaksj mas e nos romances, você prefere a escrita menos ou mais poética? muitos versos conseguem ser difíceis de entender mesmo, eu concordo D: tanto que talvez isso afaste as pessoas (eu inclusa), mas acho que é possível desenvolver esse entendimento... espero ¯\_(ツ)_/¯

nicole e. martins disse...

que legaaaal!!! que bom que tu gostou gabes :D é também sobre não saber por onde começar, né?! eu ficava perdida e tão difícil começar pelos que a galera indica de cara (vide clássicos e etc, sempre homens também) quero trazer mais nomes que tenho visto por aí nessa aventura!! e não foi nada kasjakjs um prazer incentivar :)) muito muito obrigada aos teus elogios todos <3

Snow ★ disse...

Um texto repleto de descobertas e fascínios é esse que eu acabei de ler e minha nossa, como ler algo seu me fez bem hoje Nicole, acho que ficar meses sem isso fez o sentimento ficar meio intenso aqui pois tive muitas palavras tiradas de mim quando peguei meu primeiro livro de poesia para ler (isso vindo de alguém que sempre escreveu mas nunca leu algo de outra pessoa) isso a uns três anos atrás, foi assim que aquela poetisa pirralhenta dentro de mim acordou e ficou me atazando, escrevendo um monte de palavra até me cansar por completo.

Acho que nunca tive um problema com poemas, é bem isso que você disse, é algo pessoal e interpessoal. De pessoa a pessoa. De poeta para poeta. É realmente despertar e cultivar uma sensibilidade antes perdida e que se perde novamente para ser conquistada de novo... não é a toa que Campbell disse que a alma do mundo é poesia e só aqueles que são sensíveis o suficiente são capazes de entendê-la.

Espero ter conseguido resumir em dois breves parágrafos que eu adorei a sua postagem Nicole >:3

nicole e. martins disse...

oi oi oi, snow! você aqui de repente foi uma baita surpresa (ノ◕ヮ◕)ノ*:・゚✧
me perguntei várias vezes se você voltaria a publicar novamente e fico feliz que tenha voltado :)

muito obrigada aos teus elogios todos, sempre fico honrada ao receber de você que escreve tão bem! acho que o encontro com a poesia pode ser especial ou não, vai de encontro as circunstâncias também. espero sempre estar nesse ciclo de conquista e reconquista com ela, pois é uma experiência maravilhosa mesmo!

sempre ótimo te ter aqui, até logo <3

Snow ★ disse...

(eu notando a sua resposta um mês mais tarde pois me esqueço de dar uma passadinha aqui para ver se você tinha respondido, hah) então menina, fiquei sem computador por mais de um mês e deu nisso de sumir sem aviso! Eu também não esperava voltar mas tinha uns rascunhos dando sopa e resolvi aproveitá-los mesmo, sem contar que poder ler e acompanhar blogueiras que eu gosto é aquele adicional sem igual - e eu preciso ler suas postagens antigas também, logo mais você me vê figurando por lá, tava entretida passando minhas fanfics pro Spirit nessas semanas.

Ufa! Falei um pouco quase muito!

Uia! Se eu te contar que fico surpresa sempre que me dizem que eu escrevo bem espero que acredite pois acredite. Eu fico. Hah! Mas realmente, a sua maneira de usar as palavras é algo que me impressiona um bocado Nicole e torço para que você o mantenha ♡

Poesia é aquilo de sempre aprender algo novo. Pode ser marcante para uns e nem tanto para outros.

Um beijo, um abraço e um ótimo fim de semana para você ☆

Maria Catharina disse...

que lindo, nic! o teu texto me pegou pelo pé quando falou de provocação enquanto função da arte. fui lendo e compreendi melhor que essa também é a minha relação com a poesia pelo menos. uma relação caótica, por baixo - e que depende muito de como eu tô me relacionando no momento em questão com gente da poesia :o. eu gostava muito de poesia lá em 2013/2014. não sei, talvez porque eu escrevesse uns negócios que não se encaixavam bem em nenhum canto e, sei lá, podia ser poesia hahah uma galera que tava perto de mim também escrevia. e muito bem, eu acho (encontrei hoje alguns poemas de um amigo antigo no meio das minhas coisas). mas depois já não tinha aquelas pessoas comigo, já achava o que eu escrevia ridículo e sentia que sempre precisava de paciência pra ler poesia.o que não é legal. deixei como tava, então. até me encontrar com um poema de wislawa szymborska perto das eleições de 2018 e pensar “opa, acho que gosto disso!” hahah até escrevi esse poema na contracapa de um livro que deixei no banco de uma praça daqui perto de casa. também nessa época comecei a prestar mais atenção em como um amigo falava de poesia de um jeito apaixonado. agora tô passando por um impasse por causa de uma colega poeta que não cola mais comigo. altos e baixos. esse relato totalmente autocentrado :( pra te agradecer por ser tão generosa e por se dispor trazer um respiro. é sempre bom esbarrar com esse entusiasmo que vai em direção à vida, afinal é isso o que a gente tá fazendo o tempo todo <3

beijos!