oxe, baby: um caderno de poemas secretos, por Elayne Baeta

lá vem eu de novo, falar sobre ela. desde que o livro foi anunciado meu coração vibrava de felicidade e o estômago também, em ansiedade. teria comprado na pré-venda, com aqueles muitos brindes, se não fosse aquelas fotos todas estampando o rosto dela. fiquei com vergonha e com medo. no entanto, publicado pela Editora Record, no ano de 2021, finalmente li, em 2022, Oxe, Baby, o primeiro livro de poemas da Elayne Baeta.

na manhã quente da última segunda-feira, a campainha tocou. "entrega pra Nicole", ouvi alguém dizer. sabia o que era, afinal esperava doidinha de ansiedade por ele. tive que guardar a caixa. sem abrir. tinha recebido no trabalho da minha mãe. não queria que ninguém visse. queria que fosse um momento especial. só meu e dela. 

meio-dia. dentro do ônibus, a caixa fazia volume na mochila. aguardando pra ser aberta. "será que vou conseguir ler hoje?" pensei. eu nem aguentei. quando cheguei em casa, corri para o quarto. me surpreendi com a minha própria reação, pois só o vislumbre daquela capa rosa tinha me emocionado. era felicidade, saudade. 

depois de almoçar e fazer uma sequência de afazeres, lá pelas três da tarde, fiz um chá de camomila, peguei uns biscoitos feitos no fim de semana pela minha mãe e carreguei o Oxe, Baby junto ao peito, direto pra varanda. ia me reencontrar com ela, uma velha amiga. tinha que estar á vontade, tinha que ser especial.

[...]
eu, poeta
preciso acreditar que nada é coincidência
quando perco,
irresgatavelmente romântica,
ainda ganho
acreditamos em tudo no meu estômago
certas estão as borboletas
poeta eu, acontece
preciso acreditar nos olhos.
the eyes, chico, they never lie, pág. 73 

de fato, Elayne estava lá dentro. espreitando entre as palavras e frases dos poemas, falando diretamente comigo, me perguntando como eu estava e se eu tinha sido corajosa. porquê ela é assim, ousadia e sinceridade. era o que eu pensava. por mais que aparentasse pra mim toda essa coragem de enfrentar deus e o mundo, encontrei naquelas palavras alguém não somente invencível, mas que também sangra, chora, sente medo, cheia de camadas que não posso ver. 

se fosse pra descrever esse compilado de poemas, diria intensidade. pouco demais pra resumir.

ao pensar em Oxe, Baby, alguns conceitos já estabelecidos em mim desde o Amor Não é Óbvio, se confundem. o que é intenso? seriam, as palavras? os poemas? a arte? ela própria? é perceptível, se não quase palpável, toda a fome, toda a sede, toda a paixão que é presente nas coisas que ela se propõe a criar. é sempre muito e transborda exageradamente pra fora das páginas. sejam as palavras, as ilustrações, os sentimentos. é contagiante. é como se ela sorrisse e eu automaticamente retribuísse, de graça. sempre foi a alma dela, em tudo.

aquela frase pra se tatuar na cara

e por quê não falar de si mesmo e de coisas que se conhece? suas próprias experiências. a escrita é uma forma de sobrevivência, já dizia Isabela Figueiredo. 

[...]
Ontem mesmo eu perguntei a Deus o que eu poderia fazer
para deixar de ser assim como eu sou
Deus me disse
"Te amo"
exílio, pág. 102

há uma atmosfera de confidências aqui dentro. não somente as dela, mas minhas também. ler o que ela escreve, em causa e efeito, sempre traz vontades á muito esquecidas, da lembrança de coisas que estão guardadas à sete chaves. viver no presente, existir no olhar de outra pessoa, dilacerar o qualquer, o pouco e a meia-boca de sentimento que te ofereçam, que me ofereçam. 

[...]
achando que era banquete,
lavei memórias com saudade,
a solidão vem e tempera
um amor meia-boca
quando ninguém tá olhando.
subterfúgio, pág. 121

num diálogo imaginário, ela me diz:

- tenha coragem, rapaz. 
- eu tô tendo. ainda continuo aqui. - digo.

e aí Maria Betânia, Cássia Eller, Gal e Gadu, vieram á tona. não sei nem se era pra perceber elas ali, mas eu vi as serenatas e o todo o sofrer de amor, o amor de doer, e porquê não as imortalidades também? ela escreveu o "Hey by Pixies" e eu jurei, de dedo mindinho, pé junto e olhos fechados que era pra mim. agora é dela. porquê não conseguiria ouvir a música sem lembrar dela, do poema.  

passei uma tarde com aqueles escritos, um pouco da noite também. gosto de dizer que passei junto com ela, porquê me parece um pouco frio, se não impossível, pra mim, desvencilhar a arte de seu artista. os poemas da poeta. ela tava bem ali, em carne e osso dentro daquelas páginas de papel em preto e branco, e ninguém poderia me dizer que não a vi. 

seis balas em um revólver.
se você jurar que deixará de amar garotas, deixamos você passar.
cinco balas em um revólver.
fronteira, pág. 97

esse caderno de poemas consegue ser tantas coisas que só uma leitura não consegue dar conta, mas já na primeira passagem por ele, o coração ainda bate descompassado quando lembro o que ficou. das coisas que me provocaram. das coisas que me fizeram inquieta. se refresca cada vez que olho ali quieto na estante. de verdade, quanta emoção, quanta intensidade

Elayne nasceu na Bahia, atualmente mora em São Paulo e eu a conheci através do podcast dela chamado Lésbica & Ansiosa, o qual me fez ler o primeiro romance com protagonismo sáfico da vida, O Amor não é Óbvio. então sim, é um livro especial pra mim. Oxe, Baby, ainda com mais força, conseguiu me tirar, de novo, de órbita e me lançar direto num cometa. 

reitero que não é necessário que você seja como ela pra ler o que ela escreve, basta ser uma pessoa. uma pessoa que ouve e escuta o que o outro tem a dizer. ouça alguém que fala sobre dores, amores, fervores e o existir, de uma forma apaixonada, poética e viva. ⭐

o céu tava lindo naquele fim de tarde, 
de segunda

4 comentários:

Giovanna dantas disse...

Sua escrita é Arte!

nicole e. martins disse...

nossa gio, que honra! acho que tenho muito pra caminhar ainda haha mas muito obrigada pelo elogio, de verdade! <3

Vitória disse...

nossa, você me contagiou! vou procurar pra lerrrrrrr.
parece que lendo tudo que vc escreveu eu fui sentindo como vc se sentia, toda a emoção, certa angústia, ansiedade, ai, que delíciaaaaa. é muito gostoso sentir tantos sentimentos quando leio sobre alguma coisa.

bjo, nic!!

nicole e. martins disse...

que legal!! aaaa foram muitos sentimentos lendo esse negócio realmente. é muito bom mesmo sentir esse furacão de sentimento, espero que você goste também. <3 bjo, vi!!!