sobre blog, escrever e eu já nem sei mais

seria ótimo prever o futuro. tá aí um negócio que, vez ou outra, gostaria de fazer. poder dar uma boa olhada no que eu me tornei. só uma. a imprevisibilidade é instigante, mas se perder no dia após dia até chegar em grandes eventos da linha do tempo, só considero bom de vez em quando. aliás, o final eu já conheço. nem me fale de arrogância, pois imortalidade infelizmente não é o meu super poder. hipoteticamente, gostaria de ser imortal? não. queria era poder olhar, só um pouquinho, o futuro.

quando eu disse pra mim mesma que esse blog era um feito molecular de mim, cheio de partes de encaixe, não contava com a ideia de se tornar um espaço de testes também. no fundo-fundo queria mesmo era saber se alguém gostava do que eu escrevia. já escrevi em muitos outros lugares, outros tipos de escrita, inclusive ficcional. era legal, mas... não vou entrar no ponto de que nem era tão bom assim. fato é que sou feita deles também.

lembro de quando criança ter ganhado um caderno da minha mãe, na verdade, uma agenda, com folhas que se desprendiam de um aro. eu não tinha nem dez anos e já escrevia. desconexa e errônea, mas criava. aquela cena clássica de pingos vermelhos que iam da sala até a cozinha e uma descoberta engraçada e suspeita: ketchup! lembro especialmente dessa, pois mostrei a minha mãe. que alívio é saber, talvez ela tenha tido, minha cria não é uma criança sociopata que pensa em histórias de sangue.

lembro de ter tido alguns diários e de diário não tinha nada, pegava o lápis pra escrever quando haviam grandes coisas acontecendo na vida chata de adolescente. penso que eu poderia ter sido mais atenta. preocupada com outras coisas. infelizmente. a possibilidade não tão remota assim de ter segredos lidos por outros olhos, além dos meus, me fez jogar tudo no lixo. não lembro se queimei, mas poderia ter sido um recurso narrativo brega e bonito. o que mudou pra ter essa vontade de mostrar aos outros o que escrevo? não sei, mas aconteceu. é a única coisa que eu faço com frequência. talvez haja uma vontade, maior do que todas as outras de provar pra mim mesma que eu consigo fazer algo de bom. algo que mudasse a vida de alguém. 

se as coisas fossem como eu pensei, talvez eu não tivesse mudado de ideia, logo em seguida, ao mandar 15 minutos de formulário preenchido pra uma editora, sabendo que não sou o perfil de blog que procuram - e esse não é o problema. a questão é que nunca me vi intencionalmente influenciando pessoas a coisa alguma. você não me vê recomendando livros por aí. hipócrita, eu, que postei uma resenha ontem? não dá nem pra chamar de resenha um texto que só soa apaixonado e cheio de medos de tocar nos principais, nos finalmentes. gosto de falar dos livros, por algum motivo, e não é exatamente o propósito tornar um trabalho. penso que trabalhar numa livraria seria um caminho interessante por sentir apreço á presença deles ali, e me contentaria com sebos, por via de dúvida alheia. e somente. sentimento não muito diferente que a estante em casa já não faça, pensando bem. então, o que é? 

houve uma época em que os meus textos já estiveram numa conta pessoal do instagram. com foto de sorrisos meus estampando textos essencialmente tristes e introspectivos. é até engraçado pensar que eu tenha feito isso. não sei porquê o fazia. na minha cabeça, parecia certo. lembro de ser elogiada pelos meus escritos "muito tristes" por um colega de faculdade que eu mal conhecia. não sabia que eram tristes. não sabia. realmente, era o que era. acredito que a grande maioria não era lido, não havia muitos comentários sobre o que eu dizia, mas ás fotos. as redes sociais tem dessas dinâmicas. espero estar errada. 

não sei onde quero chegar, mas aprendi por aí a seguir o fluxo. 

volta e meia consigo atingir o ponto de ebulição justamente na tristeza. é o que me parece, depois de reconhecer o comentário do colega. percebo que não há outros sentimentos os quais consigo elevar o espírito a escrever algo que pareça ser bom o bastante. é engraçado que na própria tristeza exista essa sensação sublime muito perto da sinceridade. é um foda-se, irei me aproveitar dessa sensação medíocre e exagerar os níveis, farei arte. por qual motivo não faria acontecer o mesmo aos outros sentimentos? a verdade é que me sinto menos digna perto da felicidade. ás vezes, faço doer na raiva, mas não é tão confortável como a dor de uma tristeza consegue ser na ponta do meu lápis. eu reconheço essas limitações.    

existe essa coisa com a palavra escrita que me deixa completamente a mercê dela. gosto quando criada por outros, e ás vezes, quando as faço. nunca parece bom de verdade, mas eu faço. sinto que há uma chama que ainda permanece, se eu soubesse como alimentá-la, talvez um litro de gasolina, um pouco de pólvora, assim de uma só vez, uma explosão, dentro de mim. 

tenho ânsia por saber do futuro. não sei o que me espera. acho que eu devia parar de esperar, sinceramente. mas, e aí? o que vem depois? o que devo fazer? não sei. continuo escrevendo. no fim do dia, só me resta eu e a palavra. por um acaso, ela não me deixa em segunda opção, e acho que por isso sinto tanto medo dela. sinto que não digo tudo o que poderia. reservo esse medo do que poderia ser capaz. a liberdade não parece algo que me pertença. há algo de errado comigo. como posso ter tanto medo de do que tenho nas mãos? na mesma medida, a amo. sei que não posso viver sem ela. temo e amo. 

o que esse blog significa, afinal? um lugar onde escrevo? um lugar onde me valido? raramente rabisco unicamente pra mim. talvez eu devesse voltar aos diários. talvez encontre um mapa desconhecido. de fato, há um emaranhado de matas escuras que ainda permanece inóspito, esquecido, há milênios. pelo que posso notar, não há turistas, tampouco interessados colonizadores. é preciso adentrar.⭐

6 comentários:

Marina Menezes disse...

Oi Nicole! Gosto dos seus textos. Gosto dessa escrita mais cotidiana (um dia um leitor do meu blog chamou minha escrita te cotidiana, não sei direito o que significa mas acho que se aplica). Gosto do jeito sincero que você escreve, é gostoso de ler.

Me identifico com a parte de querer olhar o futuro. Sempre que eu olho pra trás, fico imensamente surpresa de perceber onde eu estava e onde eu estou agora. É muito doido! Eu nunca imaginava que tomaria os caminhos que tomei, e que as coisas aconteceriam da forma como aconteceram. Aí fico pensando, se foi assim agora, o que é que o futuro me reserva? Mas não sei, acho que poder olhar de fato tiraria um pouco a graça das coisas. Talvez a gente entrasse numa pira de tentar mudar tudo e isso estragasse nosso próprio futuro. Aliás você já viu um filme que chama Mr Nobody? Se não viu, assisti qualquer dia, tem um pouco disso que você falou, da espiadinha no futuro. É meio confuso, mas é muito bom.

Gostei da nova cara aqui do blog, tá bonito!

Beijos!
Serenar

Lola Hurricane disse...

Não acho que seus posts sejam tristes. Apenas acredito que estamos constantemente cercados de felicidades cheias de filtro, editadas, com a melhor luz, melhor ângulo. Aí entra a minha pergunta: a felicidade simplesmente é, não precisa de apetrechos. O que me trouxe ao seu blog foi justamente essa coisa de você não ter pretexto de nenhum de ser isso ou aquilo, simplesmente escrever, estilo diário. Menina, é tanto blog isso aquilo e aquilo outro e lifestyle. Parece que muitos não escrevem de dentro pra fora. Escrevem conteúdos que "vão dar curtidas e comentários". Parece umas revistas. Se eu quiser ler revista eu não venho no blog rsrsrsrs!!! Obrigada por não cair nessas armadilhas.

Beijo!

Lola Hurricane
www.lolahurricane.blogspot.com

nicole e. martins disse...

Oi Marina! nossa, que bom saber disso. vou guardar essas observações comigo, pois não posso evitar haha. jeito sincero. também acho que tiraria a graça, mas tão curiosa!! imagino que seria assim mesmo esse lance de querer mudar tudo e talvez seja por isso que eu queira tanto olhar. então, será que não é melhor fazer alguma coisa? não sei. se pensar que o pior pode acontecer e eu tentasse evitar esse futuro que enxergo ser tão ruim? talvez. vou assistir ao filme, com certeza!! muito obrigada pela indicação :)

muito obrigada!! beijo

nicole e. martins disse...

poxa, fico feliz que você tenha gostado! sério, sempre achei que o que escrevo fosse triste, fica marcado. realmente tem bastante disso, felicidade plástica. acho que nesse caso dos blogs, o intuito é outro né? fazer dele um trabalho. não é bem o meu propósito. eu gosto do simplesmente escrever também!!! haha, pois é, acho que os blogs estilo diário são mais difíceis de encontrar ativos, mas tenho fé que essa mídia volte a ser convidativa pra isso. obrigada :) beijo

jaquinho disse...

Oir, tava lendo suas últimas coisas e pensei numa pá de coisa, eu gostei muito do último texto sobre os jambôs e fiquei me perguntando qual gosto eles têm, porque acho que essa fruta não existe ou não é muito comum aqui no sul. Achei bonita a relação afetiva que você descreveu quando falou sobre o livro de poesias e lendo esse texto fiquei pensando um pouco sobre como as vezes é fácil pensar de mais ou de menos e sobre como a quantia de pensamento muda como a gente faz as coisas. Achei bonito como o texto do jambo veio depois de você pensar sobre essa coisa da escrita e dos sentimentos e sinto que pra além de ler, tem uma coisa bastante maneira em acompanhar esse percurso da escrita.

Vou levar algumas coisas daqui pra ir pensando durante a semana, é nóis, tei tei.

nicole e. martins disse...

oi jaquinho <3 existe mais de um tipo de jambo por aqui, esse que falei é o do pará, mas não tenho a mínima ideia se vem de lá. ele me lembra muito do litoral, pois sempre comia pelas estradas de viagem até Alagoas. é até interessante, acho bem difícil explicar o gosto dele haha, mas acho que poderia dizer que é uma fruta adocicada e carnuda, macia. diferente do jambo vermelho que, apesar de também ser adocicado, não é tão macio, não tem tanta carne. isso de descrever o sabor da fruta me pegou, pq ainda acho que não descrevi tudo que ela é, talvez só comendo mesmo, ou talvez seja um novo desafio pra mim!! e é legal acompanhar né? algumas coisas se conectam e fazem sentido, mas ás vezes não há tanta conexão assim haha e tudo bem. que bom que gostou, obrigada por vir. té <3