descascando batatas & falando


Enquanto descascava batatas, comecei a pensar vários pensamentos e é por isso que o título é assim. 

De 147 livros, contos, mangás e etc, baixados no leitor, li apenas 27 deles. 27. Desde o dia em que comprei. Isso já faz muito tempo. Não sei se para as pessoas isso soa normal, mas esse número me assustou (o suficiente pra falar sobre isso) e me fez refletir bastante sobre como tenho lidado com algumas coisas especificamente pendentes. 

O que para mim era uma válvula de escape, acabou em uma poça de promessas na calçada das pendências. Para além dos arquivos que continuo acumulando (e não lendo), os livros na estante do meu quarto também estão juntando poeira há algum tempo. O texto não é exatamente sobre isso, porém foi o estopim para falar várias besteiras em linha reta. 

Mesmo que eu diga que tá tudo bem, cada pessoa tem seu tempo, ás vezes escorrego na casca-de-banana-ideia de que não tô me esforçando o suficiente. A presença de tantas coisas 'para serem feitas' girando ao meu redor me causa muita ansiedade. E não estou falando de coisas obrigatórias, pelo contrário, para elas eu torço o nariz e faço, mas falo das que me levam a escapar um pouco da realidade, que me dão prazer. Acho que as pessoas dão o nome a isso de hobby, acho que é isso.  

Prefiro dizer que não tenho hobbys justamente pelo fato de gostar de fazer tudo que me dá vontade, do que der na telha. De ter liberdade, de não me prender ao que eu mesma digo. Sempre tive frio na barriga quando a grande pergunta surgia nas conversas por aí a fora e eu só inventava um monte de coisa e coisa nenhuma. Tipo:

_ qual sua coisa favorita?
_ ah, sei lá, gosto de um pouco de tudo.

Não ter resposta para esse tipo de pergunta já me deixou muito em crise existencial, e hoje em dia, desencanei. Mentira. Tá tudo bem não me encaixar em nada, não fazer parte dos clubinhos: fãs de Star Wars, fãs de Harry Potter, fãs de kpop, fãs de banda emo, fãs de Shrek, fãs de anime, fãs de funk, fãs de... sei lá. Por muito tempo não tive livros e discos favoritos e ainda assim duvido dos que resolvi colocar (recentemente) nesse pódio. O que geralmente acontece é eu ficar muito empolgada com algo que conheci e aproveitar até saturar, não suportar mais. 

Veja bem, não é nada de querer forçar a barra, bancando a diferentona, e essas porra, não é isso. Eu só gosto das coisas, sabe? Não tem cerimônia. Gosto de um pouco de tudo e tá tudo bem. Por isso, muitas vezes, me sinto RASA. É como gostar de tudo e não gostar de nada. Gosto por fazer sentido pra mim gostar e não por... amar incondicionalmente? Ou é assim com todo mundo e estou falando abobrinhas, de novo? 

Na minha cabeça tudo funciona que nem um regime totalitário. Sim, existe uma general traiçoeira gritando dentro do meu cérebro e estou implorando: por favor, cale a boca. Já ilustrei que sou fragmentada aqui. Queria bem dizer que,

 gosto de ler, ler é um hobby para mim, 
 gosto de música, ouvir discos é um hobby para mim, 
 gosto de fazer caminhadas no sol, caminhar é um hobby para mim,
 gosto de olhar os prédios, observar a vida alheia é um hobby para mim,
 gosto de saber sobre tudo, mesmo não fazendo parte de nada, ser curiosa é um hobby para mim,
 gosto de fazer coisas que ninguém quer fazer, só pra dizer que fiz, ser chata é um hobby para mim,
 gosto de fazer as pessoas rirem (não sou palhaça), desviar a atenção das pessoas de que sou uma tempestade-por-dentro é um hobby para mim.

Como é que eu vou carregar o peso de afirmar todas essas coisas à meu respeito? Gosto de fazer tudo isso mesmo? 

Tem certeza que você não é uma farsa, Nicolinha? O que acha disso?
 Uma impostora, que tal?

Calma, gente, essa é a outra falando.

Voltando.

Mas o que eu faço com todos os livros do quarto, onde tem mais não-lidos do que lidos? O que faço com esses hobbys que não cumprem com seus papéis designados, escorrem dos meus dedos, criam olhos e bocas para me cobrar gritando de que precisam ser feitos? Podem imaginar que não ter tempo para olhar a vida alheia me deu uma ruga a mais na testa? Não literalmente.

Se eu pudesse voltar no tempo, começaria tudo do zero. Assistiria filmes com a mesma direção em sequência por vez, veria um anime até o fim até começar o seguinte, jogaria um jogo até pular pro próximo, me dedicaria a ouvir um gênero musical somente, planejaria coisas só ao finalizar outras. Só de pensar nessa possibilidade, já me empolgo com a sensação desagradável de completo tédio. Mas como? Eu sou um caos, eu não consigo fazer assim, ninguém consegue, tenho certeza. Não tenho certeza.

E tento me convencer, calma, Nicole. Calma. Você vai ficar bem. 

Afinal, você não é obrigada a nada. A NADA.

Entende de uma vez!

Nem sei quem culpar. Capitalismo, cansaço no geral, minha cabeça, talvez tudo isso junto. Constantemente tendo a acreditar que minha alma é genuinamente farofeira, desde que me entendo como ser humano pensante. Gostar um pouco de tudo faz parte de quem eu sou e não preciso me dedicar a uma única coisa para me sentir completa. 

Eu sou uma bagunça e tô muito bem com esse título. Obrigada.

Já li por aí que muitas pessoas sentem coisas parecidas. É triste e reconfortante saber disso, em medidas diferentes. Espero nunca parar de fazer tempestade em copo d'água, só para poder rir (de nervoso) de tanta besteira que eu digo, com as outras pessoas também.   





14 comentários:

Snow ★ disse...

Olha Nicole, vou te deixar um "muito obrigada" aqui pois eu estava realmente precisando ler essa postagem hoje. Agorinha mesmo. Aliviou um bocado o estado em que a minha cabeça se encontra desde segunda e sinto que agora, agora deu para respirar um ar diferente, um que não fosse completamente sufocante. Sem contar que agora consigo entender essa sua "outra" com mais clareza - eu sou ela todinha do lado de fora :B

Se vale dizer alguma coisa, essa necessidade de imediatismo a meu ver é um efeito colateral da globalização também. São tantas, mas tantas coisas ao nosso redor. Temos que estar a par de tanta coisa mesmo não estando, um caos, não é mesmo pessoal?
E como eu gosto de ver o copo sempre meio cheio, ter um monte de hobbies acumulando poeira só significa uma coisa. Quando você estiver cansada de tudo, até mesmo de você, ainda tem algo para fazer [risos sarcásticos] e digo isso por me encontrar na mesma situação que a sua. Pior ainda. Mesmo tendo livros para ler, séries e animes para terminar e começar eu ainda consigo empurrar eles em prol de reler alguma fanfic ou mangá que gosto só pra sentir aquela emoção de novo, ou ainda pior que o pior ainda, pegar algo completamente novo e me viciar completamente kroewkrow enfim, enfim.
É por isso que quando o assunto são gostos e desgostos eu prefiro ouvir do que falar, é mais divertido e interessante. Te dá uma noção de a quantas anda o mundo, as pessoas, e você nota que algumas também não gostam de gostar de tudo ao mesmo tempo.

Ah, e você não é uma farsa! Ignora essa sugestão, faz favor rkeorkwoerk

Por hora, essa é a minha postagem favorita. Só falando mesmo.
Um abraço fortão,
Snow ♥

GABES disse...

escrevo isso o tempo todo mas eu me identifico com tudo isso ou talvez com uns 90% de tudo isso. a uns anos atrás eu sabia exatamente do que gostava ou talvez pensava que sabia, e hoje em dia quando tenho que responder a coisas do tipo qual tua banda favorita? eu falo as mesmas de quando decididi (anos atrás) que seriam e fico matutando se elas ainda são minhas favoritas, se eu de fato tenho bandas favoritas ou qualquer coisa. eu tenho essas coisas de momentos, de descobrir uma coisa > ficar obcecada ou super interessada nessa coisa > ter essa coisa como uma coisa que eu gosto mas não como a principal, porque essas coisas sempre mudam e acho que isso é normal se não, não haveria mudança. acho que faz sentido ne?
e isso de não fazermos mais nossos hobbies acho que é culpa do capitalismo e a vida acelerado e todas essas coisas, eu também deixo de fazer muitas que eu gosto e nem sei pq aaaaa isso é saco! mas é normal acho, mas talvez não deveria ser.

nicole e. martins disse...

Que coincidência! Que legal que eu resolvi falar sobre isso justo quando você tava precisando. Me senti útil!!!!!!!!!! Sério, obrigada por você vir aqui e não me deixar falando sozinha ♥. E é uma droga escutar essas coisas da gente mesma né? Prefiro dizer que foi ela, eu não :B.

Acho um ótima ideia revisitar coisas que a gente gosta, pela emoção e etc, eu comecei a fazer isso recentemente e tá sendo LEGAL, eu achava que perdia tempo quando fazia, rs. O jogo virou, não é mesmo? Se viciar em coisas novas é bom demais!

Ouvir do que as pessoas gostam é muito legal, gosto de participar também, claro, mas mesmo quando você não sabe do que a pessoa tá falando e ela fala tão apaixonadamente sobre a coisa, eu fico: uau /;-;/♥

Postagem favorita? aaaaaaa oakslaksa não fala isso que eu acredito

♥ Super abraçoo

Larissa Fonseca disse...

Concordo MUITO com seu texto e também com os comentários que li aqui embaixo... A gente tá tudo meio perdido, com coisa demais por fazer e informação demais pra dar conta... Aí vêm as culpas. Ai.

Tenho tentado incluir a meditação na minha vida, até agora sem muito sucesso. Mas pode ser que venha a ser um caminho. Também a aceitação do ócio. Sabe... Desligar um pouco. De tudo.

Obrigada pela reflexão <3

nicole e. martins disse...

tudo bem você dizer que se identifica toda vez akjskajs eu até esqueço as palavras quando isso acontece comigo aaaaaaa. é muito real o que cê falou. parece ser uma necessidade da gente querer se identificar com as coisas quando mais jovem em busca de uma identidade nossa!! e anos depois, podem ou não continuar fazendo sentido gostar dessas coisas. faz muito sentido o que cê disse!!

e a gente muda também!

acho que deixar de fazer as coisas que a gente gosta é normal (?talvez), pois se tem outras necessidades. droga é quando a mente te sabota dizendo que você não quer fazer, porque você é um fracasso nisso também (parei). capitalismo desgraçando tudo, nada novo sob o sol!!!!!!!

nicole e. martins disse...

sim! as culpas são a pior parte. às vezes a gente precisa lembrar que o externo é muita influência dentro de nós, né? ai, é isso...

meditação é bem legal mesmo, mas também não funciona bem pra mim, rs. o que tem funcionado é ouvir músicas mais calmas, de certa forma, elas me desaceleram. talvez, o silêncio possa funcionar também. faz sentido, acho.

obrigada a você por vir aqui, Laris! ♥

Vanessa disse...

Mais uma doida acumuladora de livros não lidos para o meu time. Faz uns dois anos me desfiz de vários que eu já não queria ler e que estavam me sufocando pela ideia de eu ser obrigada a ler, e foi libertador. Ainda quero diminuir a minha pilha bem mais, para ler um livro de cada vez sem ficar pensando nos próximos. Na verdade, preciso fazer mais disso no geral: focar em uma coisa de cada vez.

Eu não me considero mais super fã de nada, porque não tenho paciência para saber tudo sobre um assunto e depois ser testada para saber se eu sou mesmo fã daquilo. Prefiro evitar essa pressão.

E nessa semana mesmo eu estava pensando que sou muito farofeira kkkk

nicole e. martins disse...

ai que ÓTIMO, um time que eu me encaixo!!!!!!!! entendo demais, eu me desfaço dos livros também, mas parece que brota mais.

"focar em uma coisa de cada vez" o mantra diário,

não ser super fã de nada, é isso. não é nem por precisar saber das coisas, é mais por que não acho que faça mais sentido mesmo. via como algo que precisava fazer pra me sentir parte de algo e agora sinto que as coisas precisam fazer parte de mim e não o contrário. não sei se deu pra entender, mas

ai amei seu comentário AKSJAJSA

arantxa disse...

queria começar dizendo que eu precisei colar um post-it acima da tela do meu computador, escrito “ler w.i.t.c.h. / ler livros físicos!! / bordado kim!! / curso illustrator!”, porque essas coisas fazem parte do meu lazer e eu simplesmente esqueço de fazer. ou postergo. o quão maluco é que a gente nunca priorize o que a gente (supostamente) quer??

eu costumo colocar em outras listas ou fazer uma lista só de coisas que eu deixei pela metade e preciso terminar — livros na estante, séries, bordados, desenhos, projetos, cursos. acho que a gente tem vontades demais e tempo de menos (não que ter vontades demais seja algo ruim, muito pelo contrário), e isso acaba virando mais um monstrengo que se alimenta da sensação de “não sou capaz” que vem junto com a postergação (ou falta de tempo, né) dessas coisas.

(ao contrário de você, eu nomeio TUDO como hobby HAHAHAHA pode até ser hobby em suspensão, mas eu tenho dezenas. eu gosto de gostar de muitas coisas, também. acho que não teria graça se todo mundo fosse igual e amasse loucamente algumas coisas. tem gente que ama muito poucas coisas, tem gente que ama um pouco muitas coisas, e tudo bem também)

(ah, e eu queria ter um binóculo e morar num prédio bem alto, pra poder espiar a vida alheia, hahaha)

por favor, nunca pare de fazer tempestade em copo d’água. é muito mais divertido ser quem a gente é do que ser quem a gente acha que os outros esperam de nós. e quem a gente é não precisa fazer sentido — afinal, o universo existe há bazilhões de anos e ninguém sabe dizer exatamente o porquê, risos.

beijos, nic!! <3

nicole e. martins disse...

meu deus as coisinhas nos post-its são tipo "lembrar de ser feliz", não sei se faz sentido, mas é isso aí. é uma coisa muito maluca mesmo, afinal porquê danado a gente deixa as coisas que a gente gosta pra depois?

então, você nomear tudo como "hobby" é a coisa mais sincera e legal que se pode fazer. eu tenho receio de dizer coisas e ser cobrada por elas depois :( sei que somos metamorfoses ambulantes, mas gosto e desgosto das coisas em velocidade relâmpago, não sei lidar com isso D:

não moro no oitavo andar e não tenho um binóculo quebrado haha eu não, eu ein.

eu não gosto de ser hesitante em mostrar as coisas pelas quais eu dedico meu coração, mas acontece com frequência, fazer o quê :(

obrigada por comentar coisas bonitas que me fazem sentir um pouco mais segura comigo mesma, você é demais mesmo.

bejinho, xis s2




arantxa disse...

EXATAMENTE!!!! o quão triste é a gente ter que se lembrar de fazer coisas que nos fazem bem, porque "não tem tempo"???? doideira.

acho que tá tudo bem não gostar de chamar as coisas de hobby também — afinal, entra naquela coisa de uma pessoa ser assim, outra ser assado e uma terceira ser cozido —, o importante é lembrar que tudo bem gostar das coisas do seu jeito. não adianta comparar a forma como a gente gosta das coisas com a forma das outras pessoas gostarem das coisas, porque a gente é a gente e as outras pessoas são só outras pessoas como você, como já diria regina spektor.

fui ouvir essa música do oitavo andar e adorei, hahaha. meu sonho dar uma de janela indiscreta na vida (de preferência sem presenciar assassinatos)

beijocas e suquinho de caju, nic <3

nicole e. martins disse...

eu volto nesse comentário o tempo todo e ele é lindo. não sei acrescentar nada, tenho nem o que dizer kk

arantxa disse...

eu fico esperando o dia da semana em que vai aparecer no meu e-mail que você respondeu a algum comentário, então me identifico skgbsçdgslk

<3

nicole e. martins disse...

AF AHSJKAKSKS

♡♡♡