junhos de outrora

revivo as histórias na cidade dançante, enquanto incendeia tudo no peito, que nem brasa estralando no fogo. eu sei que é junho. as bandeirinhas coloridas, a cortina incandescente pelas ruas do centro, os balões gigantes enfeitando os postes, as luzes enfim, brilham junto ao céu escuro estrelado. a felicidade mais do que presente, é sentida, compartilhada. os olhos das pessoas brilham mais que os astros do céu, é junho, afinal.

assim como o natal é pra dezembro e a páscoa pertence a março, junho é de são joão, santo antônio e são pedro. o título de "capital do forró" não serve de broche pra grudar na camisa. a alma dessa cidade é ter festa. é junho. é forró. a gente bem sabe, no mais tardar da noite, há alguém com quem festejar, seja pátio, azulão, repente, alto do moura, em casa. 

já fui aquela acanhada no canto da sala por ter vergonha de gostar dos pés sincronizados. no entanto, hoje, penso: "tomara, meu deus, tomara." viver tudo de novo e mais. e maior.

o frio que só junho sabe trazer sempre era velado pelo calor das fogueiras ou pelo abraço do amor que faz dançar desengonçado, a mão na cintura e o coração de batidas fortes. no entanto, nesses meses de junho doentes que nos separa, só sobrou o frio, o cheiro de bolo de milho e canjica —  estes dois últimos felizmente não me deixaram.  

mais um junho se vai e as festas não acontecem na cidade que respira esperança igual fole de acordeon. de felicidade garantida o coração entende. chega até bater paciente e lento. e ela, a felicidade, nunca se atrasa.