sábado é um dia em que se tem muitas pessoas pelo centro, mas nesse não havia tantas assim (ainda bem) e de ruas pouco movimentadas, o comércio da cidade tenta se manter em pé. muitos estabelecimentos sumiram do mapa. vidros empoeirados e salões vazios. é estranho passear por locais que eu costumava ver agora estampam placas enormes de VENDE-SE OU ALUGA-SE. restaurantes antigos que nunca frequentei e que fazem parte da memória da cidade, agora eram apenas galpões. lojas substituídas por outras. farmácias em todos as esquinas (antes era assim também).
fiz visita á alguns lugares que costumava ir, apesar de estar acompanhando as rede sociais desses espaços que ainda resistem aos tempos difíceis, queria saber pessoalmente como andavam as coisas. fui só na papelaria e na livraria, também não vou exagerar. teve outros dois lugares que fui e não fui. o primeiro, único sebo da cidade, tava fechado quando cheguei lá (esqueci do horário de funcionamento). o segundo, a única loja de mangás, tava muitíssimo aberta, mas desisti quando cheguei na rua, dei meia volta e evitei tristeza gratuita, já que não tinha tanto dinheiro sobrando assim.
primeiro, fui de encontro ao meu propósito principal que era o papel. é sempre um suplício quando vou à papelaria, pois rasgo horas só olhando as canetas coloridas sabendo que não vou levar, mas me fiz um agrado, depois de tanto tempo sem comprar nada. inclusive, acabei encontrando cordéis á venda, fiquei feliz, pois há um tempão não adquiria uns novos.
meu segundo destino (e último com sucesso) foi a livraria. há 3 delas aqui, sendo 2 especializadas em livros religiosos cristãos e 1 única que vende de tudo. já houve tentativa de uma segunda para todos os gostos, mas ela fechou em pouco tempo. então, sempre que eu posso (podia), passo (passava) pela Imperatriz com dinheiro. gosto muito de lá por causa das poltronas, você pode parar pra ler, estudar ou só sentar, se quiser (quer dizer, eu não sei se outras livrarias são assim, não tive contato com muitas). ah e claro que os funcionários ficam de olho.
o homem baixinho viu que eu carregava vários livros no colo e perguntou se eu queria ajuda, disse que só queria ver o preço. a leitora de código de barras estampava 54.90, 69.90, 49.90, entre outros absurdos ao meu orçamento, e aí saí devolvendo ás prateleiras. é uma droga você querer apoiar os comércios locais, mas não ter dinheiro suficiente pra isso. ainda mais quando você sabe que a desgraça da concorrência lá, que tem preços que nenhum lugar bate, existe.
mas sabe... é muito doido passar tanto tempo sem ver os livros físicos. foi um sentimento muito bom poder olhar o que só tinha visto em fotos e encontrar outros que nunca vi na vida. desse prazer, não me desfaço. sentia saudades de perder as horas dentro da livraria. desliguei o telefonema do meu pai ás 11h45 e quando fechei a autobiografia da Rita Lee já eram 12h55. o mesmo homem baixinho viu que eu devolvia o livro da multi-artista e disse que eu deveria levar, pois só tinha aquele. sempre acaba o estoque e ele repõe. perguntou se eu conhecia Dropz, falei que sim, aí ele começou a falar de outros dela que eram ainda mais caros. não, obrigada, moço!!!levei esses dois que estavam numa seção de qualquer um por 10 reais. o primeiro me chamou atenção por ter a ver com música (a história parece ser boba, mas a autora trabalhou em vários sebos e lojas de discos, me ganhou). o segundo também é algo que me interessa muito. uma escritora que fala sobre o escrever. gosto muito de ler esses processos pessoais. ela me dirigiu um "vem cá, tenho que te contar um negócio" nos primeiros parágrafos e eu não tive como dizer não. vi nas referências que ela cita autoras como Virginia Woolf (como eu mesma na primeira fase dessa postagem), as irmãs Brontê, Beauvoir, Silvia Plath e outros nomes incríveis, fiquei feliz. ter encontrado esse livro me pareceu muito certo.além dessa caminhada ter me trazido felicidades, me trouxe vários calos nos pés e imagens pra guardar também. ter visto uma criança dormindo no chão frio em frente a uma loja de colchões doía mais do que os pés que reclamavam. faço questão de gravar essas coisas. a vida nos coloca constantemente em contato direto com situações várias, mas essas imagens tenho o cuidado de não torná-las naturais. jamais. o mundo faz a gente acreditar que essa é a ordem das coisas. de ordem e progresso isso não tem nada. nunca teve.
tinha esquecido como era bom sair sozinha por aí. gosto da ilusão de conhecer a cidade como a palma da mão (não conheço). gosto de estar em contato com as pessoas, pra não perder a habilidade de fala com elas. de preferência a não perder o contato nos olhos também. devo ter dois lembretes mentais de não esquecer que o que me move também é estar de tênis no asfalto sem hora pra voltar pra casa. ver a chuva começar de repente e as pessoas ficarem mais bonitas, já que parecem pintos molhados correndo com a mão na cabeça. eu, particularmente, acho o mundo muito interessante e me sinto mais viva nele. é lá fora que são escancaradas as dores e as delícias de se viver no presente.
12 comentários:
eu sinto saudades de andar pela rua sem o medo que ronda as saídas ultimamente. entrar em sebos e livrarias sem procurar nada e sair de lá tendo encontrado alguma coisa. comprar uma caneta engraçadinha. fugir das lojas em que tudo é caro demais, e só entrar e sair de vários lugares, porque eu posso e porque o dia tá bonito e eu quero bater perna. eu tinha essa coisa que fazia de vez em quando, de andar por todas as lojas de maquiagem no centro da cidade que eu conseguia encontrar, pra descobrir se o batom preto matte já tinha aparecido aqui na minha cidade. nunca apareceu.
adorei os cordéis nas folhas coloridas <3 e estou aqui espichando os olhos pras suas compras de papel e tentando adivinhar o que você vai fazer com ele, hahaha.
espero que os livros que te encontraram sejam ótimas leituras. eu adoro quando os escritores falam com a gente!!! a QUEBRA da quarta parede!!!
(eu amo essa música e pretendo tatuar alguma parte dela ainda, algum dia. esse álbum aí é tudo!!)
<3
eu também sinto essas saudades todas! todas mesmo, incrível como você sempre tá conectada aqui ahaha. acho que vai demorar um bocado ainda até essas coisas voltarem a ser seguras. senti até vontade de procurar esse batom matte preto pra você!! se você me dizer qual é... eu não sei tanto assim de maquiagem, mas acho que consigo acertar aksjaksa
a maioria dos cordéis aqui são em folha colorida acho, pois difícil ver em branco? então... eu fiquei pensando na carta que quero muito te responder (ainda não chegou) e aí....né? queria causar boas impressões rs. era só isso, mas aí li uns comentários da Gabes hoje e ela acabou colocando minhoca na minha cabeça sobre fazer zines, mas não sei se presto criativamente pra isso, aí vou pensar!!
simm e gosto de saber de quem tá escrevendo no geral aksajs, gosto de me conectar e saber sobre suas vidas e etc. deve ser por isso que eu gostei tanto dos blogs, pois não conhecia. achava que todo mundo aqui falava sobre moda e coisas assim (não é um problema, mas julgava ser sobre isso). aí é muito bom ser fã sua, por exemplo, pois posso falar com você sobre seus escritos!!!!!!!
(que coisa linda, meu deus, amei a ideia!! doidinha pra ver como vai ficar. esse álbum aí é tudo!!)
<3
eu tenho precisado sair e sinto muito medo mesmo por causa da doença e tbm porque acho que desenvolvi medo de carros e etc, o que não facilita nada pra quem mora numa cidade da grande poa.
tambem aconteceu de muita coisa fechar aqui e eu tenho visto muitos postos de gasolina e restaurantes fechados. fico triste com isso porque penso em como todo mundo empobreceu e o pib aumentou mesmo assim. bolsonaro vai toma no cu
aqui tambem tem uma livraria dessas em que tem poltronas e até um quadro de giz fjskdjsk meu primeiro encontro com mwu namorado foi lá. eu imagino que deve ter sido um sentimento muito divisor esse de poder ver livros (e o mundo) de novo. mas tambem imagino a tristwza de nao poder comprar, sinto isso o tempo todo com comercios locais que queria prestigiar mas a crise chegou pra (quase) todo mundo né?
fiquei curioso com as tuas escolhas de livro e isso me lembrou que eu vivia catando os baratinhos tbm, principalmente nas feiras do livro. já peguei jane austen por 5 contos e me senti deus fjsofjdk
tambem sinto saudade da sensação de conhecer a cidade, mesmo nao conhecendo. sinto falta de quando meu mundo não era só minha casa e fico feliz que tu tenha podido expandir esse mundo nesses dias.
tchau tchau <3
p.s.: eu amei o teu ultimo comentario no blog do podcast jrlwbfekf cantava mto essa musica com a minha tia! e se tu quiswr eu te passo uns arquivos confidenciais nada pirateados dos diarios de um banana!!!
eu tava falando com a minha mãe sobre isso esses dias! da gente estar tão preso que acaba desenvolvendo medo do mundo, medo das coisas. deve ser ainda mais difícil pra você, imagino :(, pelos seus relatos!!
EXATAMENTE, a gente fica puto porque as pessoas tão saindo, mas a verdade é que não dá mais pra se manter em casa há muito tempo. as pessoas precisam sobreviver. a questão é essa: temer a miséria e ter que lidar com a morte. as pessoas tão passando fome. 150 reais não dá pra porra nenhuma. bolsonaro&companhia, vão tomar no cu. (desculpa, se me der corda eu saio de mim akjskajsa)
achei fofo o encontro na livraria aaaaa <3 eu tinha saído antes de carro com os meus pais (não gosto de andar de carro), mas sair sozinha e andando *não*, já fazia muito tempo, tava sentindo muita falta. e ai sim, tá foda a crise.
livro por 5 conto é TUDO NA MINHA VIDA e encontrar tipo assim JANE AUSTEN POR 5 REAIS é muito satisfatório :D
fiquei feliz também, mas o vírus continua por aí :(
só queria uma vacininha no braço meu deus!!!!
tchauu <3
p.s.: EU AMO!! POR FAVOR ME PASSA
Te ver falando da Rita Lee me lembrou que no sebo da cidade tinham muitos vinis dela (muitos mesmo), não sei se eles ainda estão lá pois os vinis geralmente são comprados por colecionadores e eles dificilmente aparecem para levar só um disco, mas se quisesse eu poderia ver se achava um para você Nicole, o que acha? A bonita aqui prometendo sem nem um tostão furado para mandar coisa pelo correio, vê se pode rekworkwo mas eu gosto de fazer gestos assim, ainda mais quando sei que a pessoa pode gostar.
Ah, cordéis! Eu lembro de ter feito alguns numa aula de artes, não me lembro se ainda tenho eles na realidade lembro que forcei muito a caneta na produção, mas lembro dos elogios da professora. Eu amava de paixão as aulas de artes!
As imagens são tão bonitas, o que você planeja fazer com tanto papel menina?
Nem vou comentar sobre querer e não ter dinheiro para ter, é por esse motivo que só vou ao mercado e olhe lá ;w;
Gostei muito do texto também, por mais que eu seja bem aquém a essa sensação. É algo que eu entendo muito bem pois já pensei nisso em tempos passados e as vezes penso quando vou ao mercado ou pagar algumas contas mas sabe, eu não me importo com isso por tanto tempo assim, a princípio dá aquele choque de algo que eu conhecia ter mudado mas o que não muda hoje em dia? É tão natural quanto não é natural esse ciclo de vida ambulante das cidades.
Vou ficando por aqui Nicole, já cumpri com a minha meta mental de comentar nas suas postagens que havia deixado passar nesse mês krokerowrk (e você mudou a fonte de gótico para máquina de escrever, já sinto saudade da fonte góticaaahh ;w;)
Um abraço e 'tézin
P.S.: as páginas internas, o blog em si, tá tudo muito bonito viu? Achei necessário deixar essa notinha aqui também :B
saudades bater perna por aí...
triste pelas situações, mas feliz por você.
adorei seu texto, os cordéis, as fotinhas e livros.
vacina no braço, comida no prato, fora devilnaro.
adorei tudo por aqui. vou seguir. beijinhos e tchiau!
Acho que uma das coisas mais malucas que existe é a de olhar um lugar do qual a gente lembra muito bem depois de as coisas terem mudado o suficiente pra que continuem reconhecíveis sem ser exatamente a mesma coisa. Não sei exatamente como é pra você mas eu sinto que esse tipo de experiência é o mais próximo que a gente consegue chegar de uma viagem no tempo. Li esse teu texto e fiquei pensando em todos os lugares onde já vivi e no que deve ter acontecido com eles desde que fui embora.
Acho engraçado como os pensamentos e as coisas de outras pessoas atingem a gente em lugares onde a gente nem sempre tava esperando, essa leitura foi um pouco assim pra mim. Achei maneiro.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa meu deus eu sou muito burra!!!!!! já é a terceira vez que to começando esse comentário porque quero falar de como me senti te acompanhando nesse passeio (que pra mim tinha um clipa de pós chuva), em como é bom sentir a rua, ver gente e coisas, e que tudo que tu comprou parece muuito legal e eu fiquei super curiosa maaaaas to meio desanimada porque é a terceira vez que to escrevendo isso porque:
1ª vez: eu escrevi tudo emocionadamente e tava super feliz com isso, então cliquei novamente nas imagens dos cordeis (parecem muito zines!) e quando voltei o comntário tinha sumido!!!!!!!
2ª vez: cometi o mesmo erro porem com a imagem dos livros aaaaaaa que burrice :cccccccc bem, fiquei super curiosa com o livro bobo, porque to numa fase de literatura boba asdosakp e essa autora parece legal. e o sobre escrever foi o que fiquei curiosa primeiro e tbm parece ótimo.
vou tentar não vacilar nos próximos comentários, fiquei braba comigo mesma porque tinha muitas coisas pra dizer!!!!!!
vim aqui só pra dizer que EU FIZ A MESMA COISAAAAAA KKK E DUAS VEZES TAMBÉM!!!! TERRÍVEL!!!! aí a gente tem que reescrever mas na segunda vez redigitando o negócio fica difícil!!!
siiiiiiiiim aaaaaaaaaaa!!!!!
muito feliz que seus pais tomaram a vacina!!!
muito triste mesmo ver comércios que funcionavam super bem fechando, principalmente quando era o único sustento do dono :(
cordéis são incríveis <3
eu amo o ambiente das livrarias, amo ver e sentir os livros físicos também, mas geralmente são tão caros...
amei o post, imaginei como se fosse um vlog kskksksks
bjuu
Postar um comentário